Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 5 de março de 2025

Herman Melville - O Tubarão das Maldivas

O poeta dedica-se a descrever poeticamente a relação de comensalismo entre os peixes-piloto e os tubarões, centrada numa aparente confiança que se estabelece sob uma dinâmica de desigualdade: de um lado, o “fleumático” e “pálido” esqualo – “devorador de hórrida carne” –; de outro, os “azuis e esguios” remeiros – amigáveis condutores do “rabugento” até as suas presas.

 

O retrato do tubarão pincelado por Melville contém imagens macabras desse terrível devorador das Maldivas – “cabeça gorgónea”, “dentes serrilhados”, “estômago sepulcral” –, o que parece não intimidar os acompanhantes, a despeito de todo o perigo à espreita: potenciais adversários, ambos os lados encontram forma de coexistência harmônica, numa convivência amistosa que, à primeira vista, teria tudo para ocorrer num cenário de hostilidades.

 

J.A.R. – H.C.

 

Herman Melville

(1819-1891)

 

The Maldive Shark

 

About the Shark, phlegmatical one,

Pale sot of the Maldive sea,

The sleek little pilot-fish, azure and slim,

How alert in attendance be.

From his saw-pit of mouth, from his charnel of maw

They have nothing of harm to dread,

But liquidly glide on his ghastly flank

Or before his Gorgonian head;

Or lurk in the port of serrated teeth

In white triple tiers of glittering gates,

And there find a haven when peril’s abroad,

An asylum in jaws of the Fates!

They are friends; and friendly they guide him to prey,

Yet never partake of the treat –

Eyes and brains to the dotard lethargic and dull,

Pale ravener of horrible meat.

 

In: “John Marr and Other Sailors” (1888)

 

Um grande tubarão branco macho e peixes-piloto

(Todd Winner: fotógrafo norte-americano)

 

O Tubarão das Maldivas

 

Rodeando do Tubarão, fleumático,

Ébrio pálido do mar das Maldivas,

Os pequenos, insinuantes peixes-piloto, azuis e esguios,

Quão alerta o seguem.

Da sua boca serrilhada, do seu estômago sepulcral

Nada têm a temer

Mas liquidamente deslizam sobre o seu pálido flanco

Ou frente à sua cabeça gorgónea;

Ou abrigam-se no porto de seus dentes serrilhados

Em brancas triplas fileiras de cintilantes cancelas,

E aí encontram proteção quando o perigo espreita,

Um asilo nas fauces das Parcas!

São amigos; e amigáveis conduzem-no à presa,

E jamais partilham o festim –

Olhos e cérebro para o rabugento, letárgico e torpe,

Pálido devorador de hórrida carne.

 

Em: “John Marr e Outros Marinheiros” (1888)

 

Referência:

 

MELVILLE, Herman. The Maldive shark / O tubarão das Maldivas. Tradução de Mário Avelar. In: __________. Poemas. Selecção, tradução e introdução de Mário Avelar. Lisboa, PT: Assírio & Alvim, mar. 2009. Em inglês: p. 50; em português: p. 51.

Nenhum comentário:

Postar um comentário