Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 29 de março de 2025

Stanisław Barańczak - Porque só este mundo da dor

Para a voz lírica, neste poema do poeta polaco, a dor se apresenta como a única realidade constante e onipresente na existência humana, vivida num mundo de hostilidades inescapáveis, de implacáveis pressões, ensejadoras de sofrimentos não meramente incidentais, senão a constituir a essência mesma de nossa condição.

 

Combinam-se para tanto a força destrutiva dos elementos naturais e os litígios e discórdias que caracterizam as interações humanas, vulnerabilizando nossos corpos e mentes, tornando-os um receptáculo exposto a infortúnios – muitas vezes, como se observa, autoinduzidos –, a vogar por mares salgados de suor, entre o nascimento e a morte.

 

J.A.R. – H.C.

 

Stanisław Barańczak

(1946-2014)

 

Bo tylko ten świat bólu

 

Bo tylko ten świat bólu, tylko ta

kula spłaszczona w lodowym imadle,

wychłostana burzami, łamana kołami

południków, trzeszcząca w granicach

grubymi nićmi szytych, tylko ta

cienka skóra skorupy ziemskiej, popękana

rzekami, wydzielająca z siebie pot mórz słonych

między ciosami lawy i ciosami słońca,

 

bo tylko ten świat bólu, tylko to

ciało w imadle ziemi i powietrza,

wychłostane kulami, łamane wpół ciosem

pięści, trzeszczące pod pałką

w kostnych szwach czaszki, tylko ta

cienka skorupa skóry ludzkiej, popękana

krwawo, tocząca z siebie słone morza potu

pomiędzy ciosem narodzin i śmierci,

 

bo tylko ten świat bólu; bo tylko ten świat

jest bólem; bo światem jest tylko ten ból.

 

W: “Dziennik poranny: wiersze” (1967-1981)

 

No deserto da dor

(Berthold von Kamptz: artista alemão)

 

Porque só este mundo da dor

 

Porque só este mundo da dor, só esta

esfera achatada no torno de gelo,

açoitada por tempestades, quebrada nas rodas

dos meridianos, crepitando nas fronteiras –

grosseiramente suturadas, só esta

fina pele da crosta terrestre, rachada

com os rios, excretando o suor dos mares salgados

entre os golpes de lava e os golpes do sol,

 

porque só este mundo da dor, só este

corpo no torno da terra e do ar,

açoitado com as balas, quebrado no meio com o golpe

de um punho, crepitando sob o cassetete

nas suturas dos ossos do crânio, só esta

fina crosta da pele humana, rachada

sangrentamente, vertendo salgados mares de suor

entre o golpe do nascimento e da morte,

 

porque só este mundo da dor; porque só este mundo

é dor; porque o mundo é só esta dor.

 

Em: “Diário matinal: poemas” (1967-1981)

 

Referências:

 

Em Polonês

 

BARAŃCZAK, Stanisław. Bo tylko ten świat bólu. In: __________. Wiersze zebrane. Kraków, PL: Wydawnictwo A5, 2006. s. 75.

 

Em Português

 

BARAŃCZAK, Stanisław. Porque só este mundo da dor. Tradução de Piotr Kilanowski. In: KILANOWSKI, Piotr. Vinte e dois poetas poloneses: uma pequena antologia de poesia em tradução. Belas Infiéis, Brasília, v. 9, n. 2, p. 51-52, 2000. Disponível neste endereço. Acesso em: 22 fev. 2025.

Nenhum comentário:

Postar um comentário