Para a voz lírica,
neste poema do poeta polaco, a dor se apresenta como a única realidade
constante e onipresente na existência humana, vivida num mundo de hostilidades inescapáveis,
de implacáveis pressões, ensejadoras de sofrimentos não meramente incidentais,
senão a constituir a essência mesma de nossa condição.
Combinam-se para
tanto a força destrutiva dos elementos naturais e os litígios e discórdias que
caracterizam as interações humanas, vulnerabilizando nossos corpos e mentes,
tornando-os um receptáculo exposto a infortúnios – muitas vezes, como se
observa, autoinduzidos –, a vogar por mares salgados de suor, entre o
nascimento e a morte.
J.A.R. – H.C.
Stanisław Barańczak
(1946-2014)
Bo tylko ten świat bólu
Bo tylko ten świat bólu, tylko ta
kula spłaszczona w
lodowym imadle,
wychłostana burzami,
łamana kołami
południków, trzeszcząca w granicach
grubymi nićmi
szytych, tylko ta
cienka skóra skorupy
ziemskiej, popękana
rzekami, wydzielająca z siebie pot mórz słonych
między ciosami lawy i
ciosami słońca,
bo tylko ten świat bólu, tylko to
ciało w imadle ziemi
i powietrza,
wychłostane kulami,
łamane wpół ciosem
pięści, trzeszczące pod pałką
w kostnych szwach
czaszki, tylko ta
cienka skorupa skóry
ludzkiej, popękana
krwawo, tocząca z siebie słone morza potu
pomiędzy ciosem narodzin i
śmierci,
bo tylko ten świat bólu; bo tylko ten świat
jest bólem; bo światem jest tylko ten
ból.
W: “Dziennik poranny:
wiersze” (1967-1981)
No deserto da dor
(Berthold von Kamptz:
artista alemão)
Porque só este mundo
da dor
Porque só este mundo
da dor, só esta
esfera achatada no
torno de gelo,
açoitada por
tempestades, quebrada nas rodas
dos meridianos,
crepitando nas fronteiras –
grosseiramente
suturadas, só esta
fina pele da crosta
terrestre, rachada
com os rios,
excretando o suor dos mares salgados
entre os golpes de
lava e os golpes do sol,
porque só este mundo
da dor, só este
corpo no torno da
terra e do ar,
açoitado com as
balas, quebrado no meio com o golpe
de um punho,
crepitando sob o cassetete
nas suturas dos ossos
do crânio, só esta
fina crosta da pele
humana, rachada
sangrentamente,
vertendo salgados mares de suor
entre o golpe do
nascimento e da morte,
porque só este mundo
da dor; porque só este mundo
é dor; porque o mundo
é só esta dor.
Em: “Diário matinal:
poemas” (1967-1981)
Referências:
Em Polonês
BARAŃCZAK, Stanisław. Bo
tylko ten świat bólu. In: __________. Wiersze zebrane.
Kraków, PL: Wydawnictwo A5, 2006. s. 75.
Em Português
BARAŃCZAK, Stanisław. Porque só este mundo da dor. Tradução de Piotr Kilanowski. In: KILANOWSKI, Piotr. Vinte e dois poetas poloneses: uma pequena antologia de poesia em tradução. Belas Infiéis, Brasília, v. 9, n. 2, p. 51-52, 2000. Disponível neste endereço. Acesso em: 22 fev. 2025.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário