Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de março de 2025

Jeremy H. Prynne - Contra a Dor

Num discurso fragmentado, o poeta inglês justapõe imagens aparentemente díspares – dor na cabeça, nuvens, crescimento de árvores, luzes de sódio etc. –, obrigando o leitor a encetar conexões entre elas e a conceber sua própria interpretação para o poema. Nada obstante, penso que se poderia tomá-lo, sem erro, como um tributo ou um gesto de compaixão e de solidariedade por aqueles que sofrem, quer se os concebam como pessoas específicas do círculo de amizades do falante, quer os versos façam referência, mais amplamente, a uma faceta da condição humana.

 

Centrados na experiência da dor – tanto física quanto emocional (“pain” & “hurt”) –, os versos enfatizam a urgência da conexão humana em meio ao sofrimento, para atenuá-lo nestes tempos tão difíceis, numa demonstração de amor incondicional. Noutra mirada, a própria natureza pode nos servir como fonte de consolo, naquilo que externaliza as lancinantes forças subjacentes em suas erupções rumo ao crescimento e à expansão do mundo orgânico, pelo que se pode suscitar um paralelo à ideia de “crescer” por meio dos incidentes que nos causam sofrimento.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jeremy H. Prynne

(n. 1936)

 

Against Hurt

 

Endowed with so much

suffering, they should be / and that

they are so – the pain in the head

which applies to me

and the clouds low over

the horizon: soon it

will be dark.

We love the brief night, for its

quick passing, the relative ease as

we slide into comfort and

the trees grow and

grow. I can hear

every smallest growth

the expanse is grinding with it,

out on the flats beyond, down by

the sodium street lights, in the head:

pain, the hurt to these who are all

companions. Serenity

is their slender means.

There is not much time

left. I love them all, severally and in

the largest honour that there is.

Now and with the least hurt, this

is for you.

 

Dor

(Marie Padden: artista irlandesa)

 

Contra a Dor

 

Dotadas de tanto

sofrimento, deveriam ser / e assim

o são – a dor na cabeça

que a mim se aplica

e as nuvens baixas sobre

o horizonte: daqui a pouco

estará escuro.

Encanta-nos a breve noite, por sua

passagem célere, a relativa facilidade

com que rolamos no conforto, enquanto

as árvores crescem

cada vez mais. Consigo ouvir

as mais pequenas medras,

o rangido da expansão que as acompanha,

o irromper para além dos andares, junto

às luzes de sódio da rua, dentro da cabeça:

o pesar, a dor por esses que são todos

companheiros. A serenidade

é um recurso que se lhes revela escasso.

Já não resta muito

tempo. Amo-os a todos, individualmente e com

a maior honra que possa existir.

Agora e com o mínimo de dor, recebam isto

como um tributo.

 

Referência:

 

PRYNNE, Jeremy H. Agains hurt. In: __________. Poems. 2nd ed. Tarset, EN: Bloodaxe Books; Fremantle, AU: Fremantle Arts Centre Press, 2005. p. 52.

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