A partir da epígrafe
aposta por Paz ao poema, dedicando-o ao astrônomo alexandrino Cláudio Ptolomeu
(~100 d.C. – ~170 d.C.), deduz-se a tencionada conexão entrevista pelo poeta
entre o ser humano e o cosmos, através da metáfora da escritura: somos não
apenas passivos espectadores do universo, senão sua parte integrante, vale dizer,
uma manifestação da mesma força criativa que dá forma às estrelas e aos planetas.
Insertos nesse tecido
cósmico, pomo-nos a interpretar as suas cordas em busca de sentido,
contemplando o modo como os corpos celestes “escrevem” os seus temas orbitais.
Mas a voz lírica também se reconhece “escritura”, imbuída de significado e
transcendência, pois que, como todas, a par de sua própria identidade, há o
outro lado a interpretá-la e reinterpretá-la – sugerindo haver uma linguagem partilhada
por meio da qual cogitamos desvelar a face mais absconsa do mundo.
J.A.R. – H.C.
Octavio Paz
(1914-1998)
Hermandad
Homenaje a Claudio
Ptolomeo
Soy hombre: duro poco
y es enorme la noche.
Pero miro hacia
arriba:
las estrellas
escriben.
Sin entender
comprendo:
también soy escritura
y en este mismo
instante
alguien me deletrea.
Irmandade
(Sajja Sajjakul:
artista tailandês)
Irmandade
Homenagem a Cláudio
Ptolemeu
Sou homem: duro pouco
e enorme é a noite.
Porém olho para cima:
as estrelas escrevem.
Sem entender
compreendo:
também sou escritura
e neste mesmo
instante
alguém me soletra.
Referência:
PAZ, Octavio.
Hermandad. In: __________. Obras completas. Obra poética II: 1969-1998.
Árbol adentro: 1976-1988. Tomo XII. Edición del autor. 1. ed. México, DF: Fondo
de Cultura Económica, 2004. p. 112. (‘Letras Mexicanas’)
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