Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 6 de março de 2025

Octavio Paz - Irmandade

A partir da epígrafe aposta por Paz ao poema, dedicando-o ao astrônomo alexandrino Cláudio Ptolomeu (~100 d.C. – ~170 d.C.), deduz-se a tencionada conexão entrevista pelo poeta entre o ser humano e o cosmos, através da metáfora da escritura: somos não apenas passivos espectadores do universo, senão sua parte integrante, vale dizer, uma manifestação da mesma força criativa que dá forma às estrelas e aos planetas.

 

Insertos nesse tecido cósmico, pomo-nos a interpretar as suas cordas em busca de sentido, contemplando o modo como os corpos celestes “escrevem” os seus temas orbitais. Mas a voz lírica também se reconhece “escritura”, imbuída de significado e transcendência, pois que, como todas, a par de sua própria identidade, há o outro lado a interpretá-la e reinterpretá-la – sugerindo haver uma linguagem partilhada por meio da qual cogitamos desvelar a face mais absconsa do mundo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Octavio Paz

(1914-1998)

 

Hermandad

 

Homenaje a Claudio Ptolomeo

 

Soy hombre: duro poco

y es enorme la noche.

Pero miro hacia arriba:

las estrellas escriben.

Sin entender comprendo:

también soy escritura

y en este mismo instante

alguien me deletrea.

 

Irmandade

(Sajja Sajjakul: artista tailandês)

 

Irmandade

 

Homenagem a Cláudio Ptolemeu

 

Sou homem: duro pouco

e enorme é a noite.

Porém olho para cima:

as estrelas escrevem.

Sem entender compreendo:

também sou escritura

e neste mesmo instante

alguém me soletra.

 

Referência:

 

PAZ, Octavio. Hermandad. In: __________. Obras completas. Obra poética II: 1969-1998. Árbol adentro: 1976-1988. Tomo XII. Edición del autor. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 2004. p. 112. (‘Letras Mexicanas’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário