Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 19 de março de 2025

Marco Antonio Montes de Oca - Sim e Não

O poeta mexicano nos leva a adentrar uma paisagem intimista e reflexiva, na qual a contemplação e o questionamento entrelaçam-se num diálogo dicotômico e intrigante, mediante a personificação da alma e a exploração de emoções contrastantes, as quais pervagam entre o entorno natural e estados mentais de inquietude, de desassossego, provindos, talvez, de uma intuição, um pressentimento ou suspeita que não se pode explicar de modo racional.

 

Em meio a esse clima conflitivo, em que a felicidade e a harmonia de outrora parecem ter-se dissipado, idem o encanto, o primor, a alegria e a vitalidade, o falante recorre, de certa maneira, a formas liminares de autodestruição para aliviar a dor que sente.

 

Mas nada que não possa ser superado pela experiência da beleza, ela que nos costuma surpreender inclusive nos momentos mais difíceis, de vazio ou de isolamento, levando-nos a esquecer da aridez do presente, pois que a sensação de assombro que costuma despertar tem o condão de nos reconectar à vida – na beleza graciosa das flores, no canto mavioso dos pássaros, em algo que, tocando-nos, estimula-nos a encontrar sentidos inauditos, até mesmo em eventos triviais, quiçá convertendo-os em palavras, em poesias!

 

J.A.R. – H.C.

 

Marco Antonio Montes de Oca

(1932-2009)

 

Sí y No

 

Sentada en el filo de nopales

Mi alma se pregunta qué pregunta.

No sé por qué se ensimisma tanto

Ni qué le arde desde tan temprano;

Quizá sea algún murmullo no visible,

O el recuerdo de un lugar

En que los pájaros ríen y las dalias también.

Ya el estío perdió su candor.

Un viento grande me blinda el oído

Y a duras penas

Cruelmente me consuelo

Dándole de palos a los nardos.

Algo sordo me cae desde la cornisa.

Por mera casualidad

Oigo otra vez

El olvidado fragor de la belleza.

 

Cidade dos Anjos

(Daniela Stoykova: artista búlgara)

 

Sim e Não

 

Sentada perto dos nopais (*)

Minh’alma se pergunta sobre o que pergunta.

Não sei por que tanto se ensimesma

Ou o que a faz arder desde tão cedo;

Talvez seja algum murmúrio não visível,

Ou a lembrança de um lugar

Em que riem os pássaros como as dálias.

O verão já perdeu o seu candor.

Um grande vento blinda-me os ouvidos

E a duras penas

Cruelmente me consolo

Sovando os nardos com paus.

Da cornija algo surdo cai sobre mim.

Por mero acaso

Ouço outra vez

O esquecido fragor da beleza.

 

Nota:

 

(*) Nopais: plantas da família das cactáceas, de frutos comestíveis e flores vermelhas, bastante encontradiças no México.

 

Referência:

 

OCA, Marco Antonio Montes de. Sí y no. In: DEBICKI, Andrew P. (Selección, introducción, comentarios y notas). Antología de la poesía mexicana moderna. London, EN: Támesis Books, 1977. p. 267. (Colección ‘Támesis’; Serie B - Textos, XX)

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