Neste que é um dos “thrénoi”
– cantos fúnebres ou de lamentações – mais famosos da poesia grega antiga,
Píndaro descreve o Elísio, uma planície favorecida do Hades, nos confins da
terra, aonde as almas dos justos são enviadas pelos imortais após a morte.
Lá, os que
expressaram justiça e bondade deste lado desfrutam de uma vida livre de labuta,
a espelharem um estado de etérea senciência, no deleite dos prazeres do corpo e
do espírito, em presença de deuses honrados, num cenário que se descreve paradisíaco.
Aqui, neste mundo de
carne e osso, onde correm “os lentos rios da sombria noite”, um “denso negror” sobe
como um miasma: às margens, a terra à espera de ser irrigada pelos homens, na
lavratura por meio da qual, com o suor no rosto, proveem o próprio
sustento.
J.A.R. – H.C.
Píndaro
(522 a.C. - 441 a.C.)
Το Ελύσιο
Τοῖσι λάμπει μέν μένος άελίον τάν ένθάδε νύκτα κάτω,
φοινικορόδοις ἐν
λειμώνεσαι προάστιον αὐτῶν.
Καὶ λιβανῷ σκιαρὸν
καὶ χρυσοκάρποισιν βεβριθός.
Καὶ τοὶ μὲν ἵπποις
γυμνασίοις -τε, τοὶ δὲ πεσσοῖς,
τοὶ δὲ φορμίγγεσσι
τέρπονται, παρὰ δέ σφισιν
εὐανθῆς ἅπας τέθηλεν
ὄλβος,
’οδμά δ’ έρατόν κατά χώρον κίδναται
αίεί θύματα μιγνύντων
πυρί τηλεφανεῖ
παντοῖα θεῷν έπί βωμοῖς.
Ένθεν τόν άπειρον έρεύγονται σκότον
βληχροί δνοφεράς νυκτός ποταμοί.
Colina em Algonquin
(CA)
(Philip Craig:
artista canadense)
O Elísio
Enquanto aqui é
noite,
o sol fulgia vigoroso
para eles
no mundo subterrâneo;
e diante da cidade
pelos campos de rosas
carmesins, o incenso
derrama a sua sombra,
e os ramos vergam-se
com frutos de ouro.
Uns se divertem com
cavalos ou lutando,
enquanto jogam
outros, ou a lira tocam,
e entre eles a
felicidade é como a árvore
que já cresceu de
todo e se acha em flor.
Por essa terra amável
um doce aroma sem
cessar se espalha:
nos altares dos
deuses eles mesclam
arômatos de toda
espécie
ao fogo que de longe brilha.
Denso negror expelem
no outro lado
os lentos rios da sombria noite.
Referências:
Em Grego
PÍNDARO apud
PLUTARCO. In: VALDÉS, Manuela García. Píndaro en Plutarco: otras ideas
religiosas. Archivum, Oviedo (ES), n. 39-40, p. 217-219, set. 1989.
Disponível neste endereço. Acesso em: 20 mar.
2025.
Em Português
PÍNDARO. O elísio.
In: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Seleção, notas e tradução). Poesia
grega e latina. São Paulo, SP: Cultrix, 1964. p. 119. (‘Clássicos Cultrix’)
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