Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Hermann Hesse - Degraus

O poeta em Hesse insta-nos a abraçar cada etapa de nossas vidas com intrepidez, estando abertos às oportunidades que se nos apresentam, à medida que avançamos neste oceano revoluto e transformador: pelo meio do caminho fica a nossa juventude, até mesmo a sabedoria e a virtude, mas devemos ter o espírito aberto para nos despedir daquilo que nos estanca, para começarmos de novo a cada chamado indicativo de inéditos roteiros.

 

Por que haveríamos de ficar paralisados pelo medo da morte, se o inevitável império da ruína está a braços dados com o avançar dos dias?! Não há motivos, mesmo porque, concomitantemente àquilo que deperece quando exposto aos influxos do tempo, novos quadrantes de beleza surgem por toda parte, como que a comprovar que a vida é feita de ressurreições e de reaparecimentos cíclicos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Hermann Hesse

(1877-1962)

 

Stufen

 

Wie jede Blüte welkt und jede Jugend

Dem Alter weicht, blüht jede Lebensstufe,

Blüht jede Weisheit auch und jede Tugend

Zu ihrer Zeit und darf nicht ewig dauern.

Es muß das Herz bei jedem Lebensrufe

Bereit zum Abschied sein und Neubeginne,

Um sich in Tapferkeit und ohne Trauern

In andre, neue Bindungen zu geben.

Und jedem Anfang wohnt ein Zauber inne,

Der uns beschützt und der uns hilft, zu leben.

 

Wir sollen heiter Raum um Raum durchschreiten,

An keinem wie an einer Heimat hängen,

Der Weltgeist will nicht fesseln uns und engen,

Er will uns Stuf´ um Stufe heben, weiten.

Kaum sind wir heimisch einem Lebenskreise

Und traulich eingewohnt, so droht Erschlaffen;

Nur wer bereit zu Aufbruch ist und Reise,

Mag lähmender Gewöhnung sich entraffen.

 

Es wird vielleicht auch noch die Todesstunde

Uns neuen Räumen jung entgegen senden,

Des Lebens Ruf an uns wird niemals enden,

Wohlan denn, Herz, nimm Abschied und gesunde!

 

(4.5.1941)

 

Lá vamos nós

(Cody Hooper: artista norte-americano)

 

Degraus

 

Assim como as flores murchas e a juventude

Dão lugar à velhice, assim floresce

Cada período de vida, e a sabedoria e a virtude,

Cada um a seu tempo, pois não podem

Durar eternamente. O coração

A cada chamado da vida deve estar

Pronto para a partida e um novo início,

Para corajosamente e sem tristeza

Entregar-se a outros, novos compromissos.

Em todo começo reside um encanto

Que nos protege e ajuda a viver.

 

Os espaços, um a um, devíamos

Com jovialidade percorrer,

Sem nos deixar prender a nenhum deles

Qual uma pátria;

O Espírito Universal não quer atar-nos

Nem nos quer encerrar, mas sim

Elevar-nos degrau por degrau, nos ampliando o ser.

Se nos sentimos bem aclimatados

Num círculo de vida e habituados,

Nos ameaça o sono; e só quem de contínuo

Está pronto a partir e a viajar

Se furtará à paralisação do costumeiro.

 

Mesmo a hora da morte talvez nos envie

Novos espaços recenados

O apelo da vida que nos chama não tem fim...

Sus (*), coração, despede-te e haure saúde!

 

(4.5.1941)

 

Nota:

 

(*). Sus: trata-se de uma interjeição exclamativa de raro uso no português contemporâneo, equivalente a algo como avante, coragem, ânimo.

 

Referências:

 

Em Alemão

 

HESSE, Hermann. Stufen. In: __________. Die gedichte: 1892-1962. 19. auflage. Frankfurt am Main, DE: Suhrkamp, 1977. s. 676.

 

Em Português

 

HESSE, Hermann. Degraus. Tradução de Lavinia Abranches Viotti e Flávio Vieira de Souza. In: __________. O jogo das contas de vidro. Tradução de Lavinia Abranches Viotti e Flávio Vieira de Souza. 7. ed. Rio de Janeiro, RJ: BestBolso, 2017. p. 531-532.

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