Partindo da premissa
de que o lugar onde sempre estamos seguros de nossa certeza logo se torna o “Calcanhar
de Aquiles” para o nosso crescimento e renovação, o poeta abre espaço à
liberdade de exploração neste amplo campo de provas que é o mundo, questionando,
a partir de nossas dúvidas e relações afetivas, as crenças que nos limitam o
modo de ser e de agir.
Informações duvidosas
muitas vezes se transformam em “verdades” sedimentadas em nossas mentes e, para
as pessoas que não se distinguem pelo autoconhecimento, acabam por tornar-se
profecias autorrealizadas, levando-as a trilhar sendas que, de modo algum, as
aproximarão das “horas mais arco de triunfo” de suas vidas – como diria Pessoa –,
ou jamais as farão deparar com a beleza das “flores da primavera” – como alegoriza
Amichai.
J.A.R. – H.C.
Yehuda Amichai
(1924-2000)
O lugar onde sempre
estamos certos
Do lugar onde sempre
estamos certos
nunca brotarão
flores na primavera.
O lugar onde sempre
estamos certos
É batido e duro
Como um pátio.
Mas dúvidas e amores
esfarelam o mundo
Como uma toupeira, um
arado.
E o murmúrio será
ouvido no lugar
onde havia uma casa –
destruída.
A cadeira vazia
(Charles Spencelayh:
pintor inglês)
Referência:
AMICHAI, Yehuda. O
lugar onde sempre estamos certos. Tradução de Moacir Amâncio. In: __________. Terra
e paz: antologia poética. Organização e tradução de Moacir Amâncio. 1. ed.
Rio de Janeiro, RJ: Bazar do Tempo, 2018. p. 147.
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