O falante saboreia um
pêssego maduro, suculento e empoeirado, com a pele e tudo, logo pondo-se a refletir
sobre a transitoriedade da existência, o que nos leva a aventar a hipótese de
que esteja nos alertando sobre a importância de aproveitarmos plenamente cada
momento e valorizarmos as memórias e as experiências que dão sentido à vida.
O que é simples e
autêntico, até mesmo rústico, em natural conexão com a terra, podemos trazer
em nosso interior, deixando-nos impregnar pela textura da sombra e dos dias de
verão: mais que atentarmos para os momentos aprazíveis e doces, reféns de
nossas percepções fugazes, devemos valorizar os ensejos que nos levem ao “eu”
das profundezas, pois que mais significativos e de indeléveis repercussões.
J.A.R. – H.C.
Li-Young Lee
(n. 1957)
From Blossoms
From blossoms comes
this brown paper bag
of peaches
we bought from the
boy
at the bend in the
road where we turned toward
signs painted Peaches.
From laden boughs,
from hands,
from sweet fellowship
in the bins,
comes nectar at the
roadside, succulent
peaches we devour,
dusty skin and all,
comes the familiar
dust of summer, dust we eat.
O, to take what we
love inside,
to carry within us an
orchard, to eat
not only the skin,
but the shade,
not only the sugar,
but the days, to hold
the fruit in our
hands, adore it, then bite into
the round jubilance
of peach.
There are days we
live
as if death were
nowhere
in the background;
from joy
to joy to joy, from
wing to wing,
from blossom to
blossom to
impossible blossom,
to sweet impossible blossom.
Florada de
pessegueiros
(Vincent van Gogh:
pintor holandês)
Das Flores
Das flores vem
este saco de papel
pardo com os pêssegos
que compramos do garoto
na curva da estrada
onde dobramos em direção
às tabuletas
anunciando Pêssegos.
Dos ramos carregados,
das mãos,
do doce ajuntamento nos
caixotes,
vem o néctar à beira da estrada – suculentos
pêssegos que devoramos, com a pele empoeirada e tudo –,
vem o pó familiar do
verão, o pó que comemos.
Oh, levar dentro de nós
o que amamos,
carregar dentro de nós
um pomar, saborear
não só a pele, como a
sombra,
não só o açúcar, como
os dias, tomar
o fruto em nossas
mãos, adorá-lo e depois morder
a rotunda jubilância
do pêssego.
Há dias em que vivemos
como se a morte não se
integrasse
a nenhum cenário; de
alegria
em alegria ao encontro
da alegria, de asa em asa,
de flor em flor ao
encontro
da impossível flor, da
doce e impossível flor.
Referência:
LEE, Li-Young. From
blossoms. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems. New
York, NY: Penguin Books, 2003. p. 427.
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