Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Li-Young Lee - Das Flores

O falante saboreia um pêssego maduro, suculento e empoeirado, com a pele e tudo, logo pondo-se a refletir sobre a transitoriedade da existência, o que nos leva a aventar a hipótese de que esteja nos alertando sobre a importância de aproveitarmos plenamente cada momento e valorizarmos as memórias e as experiências que dão sentido à vida.

 

O que é simples e autêntico, até mesmo rústico, em natural conexão com a terra, podemos trazer em nosso interior, deixando-nos impregnar pela textura da sombra e dos dias de verão: mais que atentarmos para os momentos aprazíveis e doces, reféns de nossas percepções fugazes, devemos valorizar os ensejos que nos levem ao “eu” das profundezas, pois que mais significativos e de indeléveis repercussões.

 

J.A.R. – H.C.

 

Li-Young Lee

(n. 1957)

 

From Blossoms

 

From blossoms comes

this brown paper bag of peaches

we bought from the boy

at the bend in the road where we turned toward  

signs painted Peaches.

 

From laden boughs, from hands,

from sweet fellowship in the bins,

comes nectar at the roadside, succulent

peaches we devour, dusty skin and all,

comes the familiar dust of summer, dust we eat.

 

O, to take what we love inside,

to carry within us an orchard, to eat

not only the skin, but the shade,

not only the sugar, but the days, to hold

the fruit in our hands, adore it, then bite into

the round jubilance of peach.

 

There are days we live

as if death were nowhere

in the background; from joy

to joy to joy, from wing to wing,

from blossom to blossom to

impossible blossom, to sweet impossible blossom.

 

Florada de pessegueiros

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

Das Flores

 

Das flores vem

este saco de papel pardo com os pêssegos

que compramos do garoto

na curva da estrada onde dobramos em direção

às tabuletas anunciando Pêssegos.

 

Dos ramos carregados, das mãos,

do doce ajuntamento nos caixotes,

vem o néctar à beira da estrada  suculentos

pêssegos que devoramos, com a pele empoeirada e tudo ,

vem o pó familiar do verão, o pó que comemos.

 

Oh, levar dentro de nós o que amamos,

carregar dentro de nós um pomar, saborear

não só a pele, como a sombra,

não só o açúcar, como os dias, tomar

o fruto em nossas mãos, adorá-lo e depois morder

a rotunda jubilância do pêssego.

 

Há dias em que vivemos

como se a morte não se integrasse

a nenhum cenário; de alegria

em alegria ao encontro da alegria, de asa em asa,

de flor em flor ao encontro

da impossível flor, da doce e impossível flor.

 

Referência:

 

LEE, Li-Young. From blossoms. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 427.

Nenhum comentário:

Postar um comentário