Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 29 de novembro de 2024

Louis Golding - Eu

Renunciando ao ego, o falante deste poema de Golding pretende renovar-se, desfazer-se de traços negativos ou não desejados, liberando-se das limitações e restrições vinculadas às ideias de identidade, de sexo ou mesmo daquelas que se autoimpõe por força de condicionamentos mentais, para então acercar-se da essência primordial da própria existência.

 

Trata-se, em última instância, do objetivo básico de todo ser humano, a saber, evitar o sofrimento e buscar a felicidade, escapando às limitações físicas, para transcender a um estado espiritual mais elevado – não refém de paixões, de desregramentos, de quimeras irrealizáveis –, e quiçá em fina sintonia com o cosmos ou o divino.

 

J.A.R. – H.C.

 

Louis Golding

(1895-1958)

 

I

 

I shall slough my self as a snake its skin,

My white spots of virtue, my black spots of sin.

I shall abandon my sex, my brain,

My scheming for pleasure, escaping from pain.

I shall dig roots deep down and be

A weed or a reed, a flower, a tree.

I shall lose body and miry feet,

Float with the clouds and sway with the wheat.

I am a fool and foolisher than

Anything else that is not a man.

For of all the things that I see or feel,

The I-that-is-I is far the least real.

And only when I shall learn at the last

That a stream-bed pebble is far more vast

In the scale of Mind and its secret schemes

Than all my passion and blunders and dreams;

Then only that I that shall not be I

Shall play due part beneath sun and sky,

Ranked below sparrow, just above sod,

I shall take my place in the Self of God.

 

Arca

(Nigel Cooke: pintor inglês)

 

Eu

 

Descartar-me-ei de mim mesmo como

uma cobra de sua pele,

Minhas brancas manchas do acerto,

minhas negras manchas do erro.

Abandonarei o meu sexo, o meu cérebro,

Meu plano para o prazer, escapando ao que fere.

Cavarei raízes bem fundas e serei

Um joio ou junco, uma flor, uma árvore.

Perderei corpo e pés lodosos,

Flutuarei com as nuvens e oscilarei com o trigo.

Eu sou um tolo e mais tolo que

Tudo mais que não for um homem.

De todas as coisas que vejo ou que sinto,

O eu-que-sou-eu é de longe o real mais ínfimo.

E somente quando finalmente aprender

Que um leito de arroio é muito mais vasto

Na escala da Mente e de seus secretos planos

Que toda minha paixão e tolices e sonhos;

Será então somente que eu que não serei eu

Desempenharei o papel certo sob o sol e o céu,

E colocado logo abaixo do pardal,

logo acima da turfa,

Tomarei meu lugar na Interioridade de Deus.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

GOLDING, Louis. I. In: __________. Sorrow of war: poems. 1st publ. London, EN: Methuen & Co. Ltd., 1919. p. 66. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 nov. 2024.

 

Em Português

 

GOLDING, Louis. Eu. Tradução de Zulmira Ribeiro Tavares. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina Rabinovich. Vários tradutores. São Paulo, SP: Perspectiva, 1969. p. 406. (Coleção “Judaica”; v. 12)

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