Renunciando ao ego, o
falante deste poema de Golding pretende renovar-se, desfazer-se de traços
negativos ou não desejados, liberando-se das limitações e restrições vinculadas
às ideias de identidade, de sexo ou mesmo daquelas que se autoimpõe por força de
condicionamentos mentais, para então acercar-se da essência primordial da
própria existência.
Trata-se, em última
instância, do objetivo básico de todo ser humano, a saber, evitar o sofrimento
e buscar a felicidade, escapando às limitações físicas, para transcender a um
estado espiritual mais elevado – não refém de paixões, de desregramentos, de
quimeras irrealizáveis –, e quiçá em fina sintonia com o cosmos ou o divino.
J.A.R. – H.C.
Louis Golding
(1895-1958)
I
I shall slough my
self as a snake its skin,
My white spots of
virtue, my black spots of sin.
I shall abandon my
sex, my brain,
My scheming for pleasure,
escaping from pain.
I shall dig roots
deep down and be
A weed or a reed, a
flower, a tree.
I shall lose body and
miry feet,
Float with the clouds
and sway with the wheat.
I am a fool and
foolisher than
Anything else that is
not a man.
For of all the things
that I see or feel,
The I-that-is-I is
far the least real.
And only when I shall
learn at the last
That a stream-bed
pebble is far more vast
In the scale of Mind
and its secret schemes
Than all my passion
and blunders and dreams;
Then only that I that
shall not be I
Shall play due part
beneath sun and sky,
Ranked below sparrow,
just above sod,
I shall take my place
in the Self of God.
Arca
(Nigel Cooke: pintor
inglês)
Eu
Descartar-me-ei de
mim mesmo como
uma cobra de sua
pele,
Minhas brancas
manchas do acerto,
minhas negras manchas
do erro.
Abandonarei o meu
sexo, o meu cérebro,
Meu plano para o
prazer, escapando ao que fere.
Cavarei raízes bem
fundas e serei
Um joio ou junco, uma
flor, uma árvore.
Perderei corpo e pés lodosos,
Flutuarei com as
nuvens e oscilarei com o trigo.
Eu sou um tolo e mais
tolo que
Tudo mais que não for
um homem.
De todas as coisas
que vejo ou que sinto,
O eu-que-sou-eu é de
longe o real mais ínfimo.
E somente quando
finalmente aprender
Que um leito de
arroio é muito mais vasto
Na escala da Mente e
de seus secretos planos
Que toda minha paixão
e tolices e sonhos;
Será então somente
que eu que não serei eu
Desempenharei o papel
certo sob o sol e o céu,
E colocado logo abaixo
do pardal,
logo acima da turfa,
Tomarei meu lugar na Interioridade
de Deus.
Referências:
Em Inglês
GOLDING, Louis. I. In:
__________. Sorrow of war: poems. 1st publ. London, EN: Methuen & Co.
Ltd., 1919. p. 66. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 nov.
2024.
Em Português
GOLDING, Louis. Eu.
Tradução de Zulmira Ribeiro Tavares. In: GUINSBURG, J.; TAVARES, Zulmira
Ribeiro (Orgs.). Quatro mil anos de poesia. Desenhos de Paulina
Rabinovich. Vários tradutores. São Paulo, SP: Perspectiva, 1969. p. 406.
(Coleção “Judaica”; v. 12)
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