Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

Dylan Thomas - A luz aflora onde nenhum sol brilha

Mesmo em situações desoladoras, a esperança costuma nos acompanhar, pois que sustentáculo de vida, brilho de nossos corações envoltos em suas próprias marés, melhor dizendo, seus sentimentos e paixões, conferindo-nos luz espiritual para adentrarmos e transmutarmos as zonas mais obscuras, ocultas e misteriosas de nossas mentes.

 

Presas do tempo, de um corpo que gradualmente se deprecia com a velhice, renovamo-nos ou renascemos, nada obstante, por meio de nossos sonhos de transcendência e de eternidade, corolário de um processo de compreensão intuitiva e emocional do mundo, que vai muito além da lógica ou do raciocínio puro, isto é, da pura razão.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dylan Thomas

(1914-1953)

 

Light breaks where no sun shines

 

Light breaks where no sun shines;

Where no sea runs, the waters of the heart

Push in their tides;

And, broken ghosts with glow-worms in their heads,

The things of light

File through the flesh where no flesh decks the bones.

 

A candle in the thighs

Warms youth and seed and burns the seeds of age;

Where no seed stirs,

The fruit of man unwrinkles in the stars,

Bright as a fig;

Where no wax is, the candle shows its hairs.

 

Dawn breaks behind the eyes;

From poles of skull and toe the windy blood

Slides like a sea;

Nor fenced, nor staked, the gushers of the sky

Spout to the rod

Divining in a smile the oil of tears.

 

Night in the sockets rounds,

Like some pitch moon, the limit of the globes;

Day lights the bone;

Where no cold is, the skinning gales unpin

The winter's robes;

The film of spring is hanging from the lids.

 

Light breaks on secret lots,

On tips of thought where thoughts smell in the rain;

When logics dies,

The secret of the soil grows through the eye,

And blood jumps in the sun;

Above the waste allotments the dawn halts.

 

In: “Eighteen Poems” (1934)

 

Farol de Eddystone durante uma tormenta

(William Daniell: pintor inglês)

 

A luz aflora onde nenhum sol brilha

 

A luz aflora onde nenhum sol brilha;

Onde nenhum mar se move, as águas do coração

Impelem suas marés;

E, fantasmas espedaçados com vermes faiscantes nos cabelos.

Os objetos da luz

Trespassam a carne onde nenhuma carne veste os ossos.

 

Uma vela sobre as coxas

Aquece as sementes da juventude e queima as da velhice;

Onde nenhuma semente se agita,

O fruto do homem se arredonda junto às estrelas,

Reluzente como um figo;

Onde a cera derreteu, a vela exibe o seu pavio.

 

A aurora emerge atrás dos olhos;

Dos polos do crânio e dos dedos dos pés,

o sangue tempestuoso

Desliza como as ondas do mar;

Sem arrimo ou amurada, os poços do céu

Jorram até as bordas,

Prenunciando num sorriso o óleo das lágrimas.

 

A noite, qual uma lua de breu,

Circunda em suas órbitas o limite dos planetas;

O dia se irradia nos ossos;

Onde o frio se acabou, as dilacerantes tempestades rasgam

As vestes do inverno;

O véu da primavera se desprende das pálpebras.

 

A luz aflora em lugares recônditos,

Nos píncaros do pensamento onde o seu aroma flutua

sob a chuva;

Quando a lógica se extingue,

O segredo da terra germina através dos olhos,

E o sangue salta sobre o sol;

A aurora se detém sobre os campos desolados.

 

Em: “Dezoito Poemas” (1934)

 

Referências:

 

Em Inglês

 

THOMAS, Dylan. Light breaks where no sun shines. In: __________. Collected poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p. 24-25.

 

Em Português

 

THOMAS, Dylan. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 23-24.

2 comentários:

  1. Gostei muito de ler este poema de Dylan Thomas, um poeta de que gosto muito, assim como da sua prosa e teatro, que foram publicados em Portugal. O John Cale (ex-Velvet Underground) tem um belo disco intitulado "Words for the Dying" com poemas de Dylan Thomas.
    Obrigado pela visita e comentário.
    Bom fim-de-semana!
    Um abraço!

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  2. Muito obrigado. Um grande final de semana para você também. João A. Rodrigues

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