Mesmo em situações
desoladoras, a esperança costuma nos acompanhar, pois que sustentáculo de vida,
brilho de nossos corações envoltos em suas próprias marés, melhor dizendo, seus
sentimentos e paixões, conferindo-nos luz espiritual para adentrarmos e transmutarmos
as zonas mais obscuras, ocultas e misteriosas de nossas mentes.
Presas do tempo, de
um corpo que gradualmente se deprecia com a velhice, renovamo-nos ou renascemos,
nada obstante, por meio de nossos sonhos de transcendência e de eternidade,
corolário de um processo de compreensão intuitiva e emocional do mundo, que vai
muito além da lógica ou do raciocínio puro, isto é, da pura razão.
J.A.R. – H.C.
Dylan Thomas
(1914-1953)
Light breaks where no
sun shines
Light breaks where no
sun shines;
Where no sea runs,
the waters of the heart
Push in their tides;
And, broken ghosts
with glow-worms in their heads,
The things of light
File through the
flesh where no flesh decks the bones.
A candle in the
thighs
Warms youth and seed
and burns the seeds of age;
Where no seed stirs,
The fruit of man unwrinkles
in the stars,
Bright as a fig;
Where no wax is, the
candle shows its hairs.
Dawn breaks behind
the eyes;
From poles of skull
and toe the windy blood
Slides like a sea;
Nor fenced, nor
staked, the gushers of the sky
Spout to the rod
Divining in a smile
the oil of tears.
Night in the sockets
rounds,
Like some pitch moon,
the limit of the globes;
Day lights the bone;
Where no cold is, the
skinning gales unpin
The winter's robes;
The film of spring is
hanging from the lids.
Light breaks on secret
lots,
On tips of thought
where thoughts smell in the rain;
When logics dies,
The secret of the
soil grows through the eye,
And blood jumps in
the sun;
Above the waste
allotments the dawn halts.
In: “Eighteen Poems”
(1934)
Farol de Eddystone
durante uma tormenta
(William Daniell:
pintor inglês)
A luz aflora onde
nenhum sol brilha
A luz aflora onde
nenhum sol brilha;
Onde nenhum mar se
move, as águas do coração
Impelem suas marés;
E, fantasmas
espedaçados com vermes faiscantes nos cabelos.
Os objetos da luz
Trespassam a carne
onde nenhuma carne veste os ossos.
Uma vela sobre as
coxas
Aquece as sementes da
juventude e queima as da velhice;
Onde nenhuma semente
se agita,
O fruto do homem se
arredonda junto às estrelas,
Reluzente como um
figo;
Onde a cera derreteu,
a vela exibe o seu pavio.
A aurora emerge atrás
dos olhos;
Dos polos do crânio e
dos dedos dos pés,
o sangue tempestuoso
Desliza como as ondas
do mar;
Sem arrimo ou
amurada, os poços do céu
Jorram até as bordas,
Prenunciando num
sorriso o óleo das lágrimas.
A noite, qual uma lua
de breu,
Circunda em suas
órbitas o limite dos planetas;
O dia se irradia nos
ossos;
Onde o frio se
acabou, as dilacerantes tempestades rasgam
As vestes do inverno;
O véu da primavera se
desprende das pálpebras.
A luz aflora em
lugares recônditos,
Nos píncaros do
pensamento onde o seu aroma flutua
sob a chuva;
Quando a lógica se
extingue,
O segredo da terra
germina através dos olhos,
E o sangue salta
sobre o sol;
A aurora se detém
sobre os campos desolados.
Em: “Dezoito Poemas” (1934)
Referências:
Em Inglês
THOMAS, Dylan. Light
breaks where no sun shines. In: __________. Collected poems: 1934-1952.
1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p. 24-25.
Em Português
THOMAS, Dylan. Tradução
de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados
pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Tradução e introdução de Ivan
Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 23-24.
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Gostei muito de ler este poema de Dylan Thomas, um poeta de que gosto muito, assim como da sua prosa e teatro, que foram publicados em Portugal. O John Cale (ex-Velvet Underground) tem um belo disco intitulado "Words for the Dying" com poemas de Dylan Thomas.
ResponderExcluirObrigado pela visita e comentário.
Bom fim-de-semana!
Um abraço!
Muito obrigado. Um grande final de semana para você também. João A. Rodrigues
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