Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

César Dávila Andrade - Convite à vida triunfante

O poeta nos convida a celebrar a vida em todos os seus estados e manifestações, apreciando e amando, a valer, cada circunstância do existir humano, desde a espontânea alegria de estarmos vivos até a inevitável realidade da morte – quando então retornaremos à companhia dos deuses, reingressando no santuário da eternidade.

 

Com efeito, temos aqui uma ode que nos exorta a buscarmos o centro invisível do ser, para participarmos da vida una e universal, fundindo-nos ao próprio princípio criador. Afinal, o firmamento bem pode ser experimentado como um estado d’alma, quando se é capaz de amar segundo uma perspectiva transcendente, isto é, para além das fronteiras do contingente, daquilo que se encontra à mercê da dinâmica do tempo e do espaço, enclausurado nas masmorras da matéria.

 

J.A.R. – H.C.

 

César Dávila Andrade

(1918-1967)

 

Invitación a la vida triunfante

 

Amad toda esta vida en la que Dios transita.

Esta alegría inmensa de ser hombres.

El don de hablar con amor toda palabra.

Esta certeza de morirnos una tarde.

Esta seguridad de volver cualquier mañana.

Esta grandeza de vivir al pie de nuestra propia alma.

Amad la muerte que nos quita una madre o una amiga.

Las lágrimas de la ternura inesperada.

Amad a los que sufren un amor metafísico

y a los que aún padecen un olvido divino.

Amad a las personas que nacieron con melancolia.

A todos los que llegaron por la noche

con la mitad de una canción entre los lábios.

Amad a las muchachas que padecen del pecho

y a las que van descalzas al fondo de la noche.

Amad a las muchachas que sonríen

al escuchar alguna voz querida,

pero también a aquellas

que nos pueden herir sin ser heridas:

decídles que el amor puede amar el olvido.

Amad a las que siempre ausentes viven

en la delgada niebla de una fotografia.

Amad a los mendigos del camino

y a los que aún no tienen su castigo.

 

Amad a aquellos que aún no existen

y que, ansiosos, desde un lugar divino

quieren bajar a uniformarse de cautivos.

El ancho mar antiguo, constructor de trirremes.

Vuestro futuro peso de escultura apagada

dentro la gran certeza del manto subterrâneo.

El espacio por donde vuestra alma sube y canta,

encuentra el terciopelo aéreo de la nube

y la presencia interna de Dios dentro de la nada.

Amad los cataclismos en su crueldad perfecta.

La primavera henchida de nidos y espigas,

perfumada y magnifica, gozosa e inconsciente.

La mariposa blanca que recibe en sus alas

todo el profundo peso de las noches de mayo.

Los astros, las montañas; la gacela y el ángel.

La luna, los arroyos, el mar y los adioses.

La gloria de que el cielo sea un estado de alma.

Y la delicia oculta de morir en los dioses.

 

Garota italiana com cacho de uvas

(Franz J. Dobyaschofsky: pintor austríaco)

 

Convite à vida triunfante

 

Amai toda esta vida em que Deus transita.

Esta alegria imensa de ser homens.

O dom de dizer cada palavra com amor.

Esta certeza de que numa tarde morreremos.

Esta segurança de regressar numa manhã qualquer.

Esta grandeza de viver ao pé da nossa própria alma.

Amar a morte que nos tira uma mãe ou uma amiga.

As lágrimas de uma inesperada ternura.

Amai aqueles que sofrem de um amor metafísico

e os que padecem de um esquecimento divino.

Amai as pessoas que nasceram com melancolia

e todos os que chegaram pela noite

com a metade de uma canção entre os lábios.

Amai as jovens que sofrem de dores no peito

e as que andam descalças nas profundezas da noite.

Amai as jovens que sorriem

ao escutar alguma voz querida,

mas também aquelas

que nos podem magoar sem serem magoadas:

dizei-lhes que o amor pode amar o esquecimento.

Amai as que vivem sempre ausentes

na tênue névoa de uma fotografia.

Amai os mendigos do caminho

e os que ainda não receberam o seu castigo.

 

Amai aqueles que ainda não existem

e que, ansiosos, a partir de um lugar divino

querem descer para envergar trajes de cativos.

O antigo e vasto mar, construtor de trirremes.

Vosso futuro peso de escultura derruída

dentro da grande certeza do manto subterrâneo.

O espaço por onde vossa alma se eleva e canta,

encontra o veludo aéreo da nuvem

e a presença interna de Deus dentro do nada.

Amai os cataclismos em sua crueldade perfeita.

A primavera cheia de ninhos e de espigas,

perfumada e magnífica, jubilosa e inconsciente.

A borboleta branca que recebe em suas asas

todo o profundo peso das noites de maio.

As estrelas, as montanhas; a gazela e o anjo.

A lua, os riachos, o mar e os adeuses.

A glória de que o céu seja um estado d’alma.

E o prazer oculto de morrer nos deuses.

 

Referência:

 

ANDRADE, César Dávila. Invitación a la vida triunfante. In: __________. Poesía, narrativa, ensayo. Selección, prólogo y cronología por Jorge Dávila Vázquez. Bibliografía por Jorge Dávila Vázquez y Rafael Ángel Rivas. Caracas, VE: Biblioteca Ayacucho, oct. 1993. p. 15. (‘Biblioteca Ayacucho’; vol. 191)

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