O poeta nos convida a
celebrar a vida em todos os seus estados e manifestações, apreciando e amando, a
valer, cada circunstância do existir humano, desde a espontânea alegria de
estarmos vivos até a inevitável realidade da morte – quando então retornaremos à
companhia dos deuses, reingressando no santuário da eternidade.
Com efeito, temos
aqui uma ode que nos exorta a buscarmos o centro invisível do ser, para
participarmos da vida una e universal, fundindo-nos ao próprio princípio
criador. Afinal, o firmamento bem pode ser experimentado como um estado d’alma,
quando se é capaz de amar segundo uma perspectiva transcendente, isto é, para
além das fronteiras do contingente, daquilo que se encontra à mercê da dinâmica
do tempo e do espaço, enclausurado nas masmorras da matéria.
J.A.R. – H.C.
César Dávila Andrade
(1918-1967)
Invitación a la vida
triunfante
Amad toda esta vida
en la que Dios transita.
Esta alegría inmensa
de ser hombres.
El don de hablar con
amor toda palabra.
Esta certeza de
morirnos una tarde.
Esta seguridad de
volver cualquier mañana.
Esta grandeza de
vivir al pie de nuestra propia alma.
Amad la muerte que
nos quita una madre o una amiga.
Las lágrimas de la
ternura inesperada.
Amad a los que sufren
un amor metafísico
y a los que aún
padecen un olvido divino.
Amad a las personas
que nacieron con melancolia.
A todos los que
llegaron por la noche
con la mitad de una
canción entre los lábios.
Amad a las muchachas
que padecen del pecho
y a las que van
descalzas al fondo de la noche.
Amad a las muchachas
que sonríen
al escuchar alguna
voz querida,
pero también a
aquellas
que nos pueden herir
sin ser heridas:
decídles que el amor
puede amar el olvido.
Amad a las que
siempre ausentes viven
en la delgada niebla
de una fotografia.
Amad a los mendigos
del camino
y a los que aún no
tienen su castigo.
Amad a aquellos que aún
no existen
y que, ansiosos,
desde un lugar divino
quieren bajar a
uniformarse de cautivos.
El ancho mar antiguo,
constructor de trirremes.
Vuestro futuro peso
de escultura apagada
dentro la gran
certeza del manto subterrâneo.
El espacio por donde
vuestra alma sube y canta,
encuentra el
terciopelo aéreo de la nube
y la presencia
interna de Dios dentro de la nada.
Amad los cataclismos
en su crueldad perfecta.
La primavera henchida
de nidos y espigas,
perfumada y
magnifica, gozosa e inconsciente.
La mariposa blanca
que recibe en sus alas
todo el profundo peso
de las noches de mayo.
Los astros, las
montañas; la gacela y el ángel.
La luna, los arroyos,
el mar y los adioses.
La gloria de que el
cielo sea un estado de alma.
Y la delicia oculta
de morir en los dioses.
Garota italiana com
cacho de uvas
(Franz J. Dobyaschofsky:
pintor austríaco)
Convite à vida
triunfante
Amai toda esta vida
em que Deus transita.
Esta alegria imensa
de ser homens.
O dom de dizer cada
palavra com amor.
Esta certeza de que
numa tarde morreremos.
Esta segurança de
regressar numa manhã qualquer.
Esta grandeza de
viver ao pé da nossa própria alma.
Amar a morte que nos
tira uma mãe ou uma amiga.
As lágrimas de uma
inesperada ternura.
Amai aqueles que
sofrem de um amor metafísico
e os que padecem de
um esquecimento divino.
Amai as pessoas que
nasceram com melancolia
e todos os que
chegaram pela noite
com a metade de uma
canção entre os lábios.
Amai as jovens que
sofrem de dores no peito
e as que andam
descalças nas profundezas da noite.
Amai as jovens que
sorriem
ao escutar alguma voz
querida,
mas também aquelas
que nos podem magoar
sem serem magoadas:
dizei-lhes que o amor
pode amar o esquecimento.
Amai as que vivem
sempre ausentes
na tênue névoa de uma
fotografia.
Amai os mendigos do
caminho
e os que ainda não
receberam o seu castigo.
Amai aqueles que
ainda não existem
e que, ansiosos, a
partir de um lugar divino
querem descer para envergar
trajes de cativos.
O antigo e vasto mar,
construtor de trirremes.
Vosso futuro peso de
escultura derruída
dentro da grande
certeza do manto subterrâneo.
O espaço por onde
vossa alma se eleva e canta,
encontra o veludo
aéreo da nuvem
e a presença interna
de Deus dentro do nada.
Amai os cataclismos
em sua crueldade perfeita.
A primavera cheia de
ninhos e de espigas,
perfumada e magnífica,
jubilosa e inconsciente.
A borboleta branca
que recebe em suas asas
todo o profundo peso
das noites de maio.
As estrelas, as
montanhas; a gazela e o anjo.
A lua, os riachos, o
mar e os adeuses.
A glória de que o céu
seja um estado d’alma.
E o prazer oculto de
morrer nos deuses.
Referência:
ANDRADE, César
Dávila. Invitación a la vida triunfante. In: __________. Poesía, narrativa,
ensayo. Selección, prólogo y cronología por Jorge Dávila Vázquez.
Bibliografía por Jorge Dávila Vázquez y Rafael Ángel Rivas. Caracas, VE: Biblioteca
Ayacucho, oct. 1993. p. 15. (‘Biblioteca Ayacucho’; vol. 191)
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