Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 16 de novembro de 2024

Federico García Lorca - Ar Noturno

Pejado de elementos simbólicos que contribuem para uma atmosfera melancólica, este poema acaba por se tornar uma expressão lírica do temor, do desalento e do desamparo, a julgar pelo desassossego do falante diante da ausência de sua amada, capaz de levá-lo a uma espécie de vazio emocional e de retraimento.

 

A sensação de separação e de distância afetiva, ou ainda, a comoção pelo desapego, ou até mesmo pela fragilidade da relação, revelam ao leitor que, talvez, nem mesmo os regalos outrora oferecidos à amante constituíram-se num liame eficaz para manter firme o vínculo – o que teria amplificado o receio do falante em relação ao eventual impacto negativo que a ruptura do laço possa vir a ter em sua vida.

 

J.A.R. – H.C.

 

Federico García Lorca

(1898-1936)

 

Aire de Nocturno

 

Tengo mucho miedo

de las hojas muertas,

miedo de los prados

llenos de rocío.

Yo voy a dormirme;

si no me despiertas,

dejaré a tu lado mi corazón frío.

 

“¿Qué es eso que suena

muy lejos?”

“Amor,

el viento en las vidrieras,

¡amor mío!”

 

Te puse collares

con gemas de aurora.

¿Por qué me abandonas

en este camino?

Si te vas muy lejos

mi pájaro llora

y la verde viña

no dará su vino.

 

“¿Qué es eso que suena

muy lejos?”

“Amor,

el viento en las vidrieras,

¡amor mío!”

 

Tú no sabrás nunca,

esfinge de nieve,

lo mucho que yo

te hubiera querido

esas madrugadas

cuando tanto llueve

y en la rama seca

se deshace el nido.

 

“¿Qué es eso que suena

muy lejos?”

“Amor,

el viento en las vidrieras,

¡amor mío!”

 

(1919)

 

O Lamento de Aminta

(Bartolomeo Cavarozzi: pintor italiano)

 

Amor Noturno

 

Tenho muito medo

destas folhas mortas,

e medo dos prados

cheios de rocio.

Vou adormecer;

se não me despertas,

ao teu lado deixo meu coração frio.

 

“Que é isso que soa

tão longe?”

“Amor,

o vento nas vidraças,

meu amor!”

 

Eu te pus colares

com gemas de auroras.

Por que me abandonas

por este caminho?

Se vais muito longe,

meu pássaro chora

e o verde vinhedo

não dará seu vinho.

 

“Que é isso que soa

tão longe?”

“Amor,

o vento nas vidraças,

meu amor!”

 

Não saberás nunca,

esfinge de neve,

o muito que eu

te houvera querido

essas madrugadas,

quando chove tanto

e no ramo seco

se desfaz o ninho.

 

“Que é isso que soa

tão longe?”

“Amor,

o vento nas vidraças,

meu amor!”

 

(1919)

 

Referências:

 

Em Espanhol

 

LORCA, Federico García. Aire de nocturno. In: __________. Selected poems. A new translation by Martin Sorrell. Introduction and notes by D. Gareth Walters. A bilingual edition: Spanish x English. Oxford, EN: Oxford University Press, 2007. p. 16 and 18. (‘Oxford World’s Classics’)

 

Em Português

 

LORCA, Federico García. Ar noturno. Tradução de Walmir Ayala. In: AYALA, Walmir (Seleção e Organização). Poemas de amor: Shakespeare, Camões, Machado, Florbela, Lorca e outros 115 poetas de ontem e de hoje. Edição revista e atualizada por André Seffrin. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2022. p. 153-154. (‘Histórias de Amor’)

Nenhum comentário:

Postar um comentário