Pejado de elementos
simbólicos que contribuem para uma atmosfera melancólica, este poema acaba por
se tornar uma expressão lírica do temor, do desalento e do desamparo, a julgar
pelo desassossego do falante diante da ausência de sua amada, capaz de levá-lo
a uma espécie de vazio emocional e de retraimento.
A sensação de
separação e de distância afetiva, ou ainda, a comoção pelo desapego, ou até
mesmo pela fragilidade da relação, revelam ao leitor que, talvez, nem mesmo os regalos
outrora oferecidos à amante constituíram-se num liame eficaz para manter firme o
vínculo – o que teria amplificado o receio do falante em relação ao eventual
impacto negativo que a ruptura do laço possa vir a ter em sua vida.
J.A.R. – H.C.
Federico García Lorca
(1898-1936)
Aire de Nocturno
Tengo mucho miedo
de las hojas muertas,
miedo de los prados
llenos de rocío.
Yo voy a dormirme;
si no me despiertas,
dejaré a tu lado mi
corazón frío.
“¿Qué es eso que
suena
muy lejos?”
“Amor,
el viento en las
vidrieras,
¡amor mío!”
Te puse collares
con gemas de aurora.
¿Por qué me abandonas
en este camino?
Si te vas muy lejos
mi pájaro llora
y la verde viña
no dará su vino.
“¿Qué es eso que
suena
muy lejos?”
“Amor,
el viento en las
vidrieras,
¡amor mío!”
Tú no sabrás nunca,
esfinge de nieve,
lo mucho que yo
te hubiera querido
esas madrugadas
cuando tanto llueve
y en la rama seca
se deshace el nido.
“¿Qué es eso que
suena
muy lejos?”
“Amor,
el viento en las
vidrieras,
¡amor mío!”
(1919)
O Lamento de Aminta
(Bartolomeo Cavarozzi:
pintor italiano)
Amor Noturno
Tenho muito medo
destas folhas mortas,
e medo dos prados
cheios de rocio.
Vou adormecer;
se não me despertas,
ao teu lado deixo meu
coração frio.
“Que é isso que soa
tão longe?”
“Amor,
o vento nas vidraças,
meu amor!”
Eu te pus colares
com gemas de auroras.
Por que me abandonas
por este caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e o verde vinhedo
não dará seu vinho.
“Que é isso que soa
tão longe?”
“Amor,
o vento nas vidraças,
meu amor!”
Não saberás nunca,
esfinge de neve,
o muito que eu
te houvera querido
essas madrugadas,
quando chove tanto
e no ramo seco
se desfaz o ninho.
“Que é isso que soa
tão longe?”
“Amor,
o vento nas vidraças,
meu amor!”
(1919)
Referências:
Em Espanhol
LORCA, Federico
García. Aire de nocturno. In: __________. Selected poems. A new
translation by Martin Sorrell. Introduction and notes by D. Gareth Walters. A
bilingual edition: Spanish x English. Oxford, EN: Oxford University Press,
2007. p. 16 and 18. (‘Oxford World’s Classics’)
Em Português
LORCA, Federico
García. Ar noturno. Tradução de Walmir Ayala. In: AYALA, Walmir (Seleção e
Organização). Poemas de amor: Shakespeare, Camões, Machado, Florbela,
Lorca e outros 115 poetas de ontem e de hoje. Edição revista e atualizada por
André Seffrin. 4. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2022. p. 153-154.
(‘Histórias de Amor’)
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