Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 2 de novembro de 2024

Armindo Trevisan - Para onde foram os bons poetas?

Pode parecer até contraditório, mas Trevisan leva à frente a tese de que os maus poetas são fundamentais para a sobrevivência da poesia, pois que a presença deles permite conferir legibilidade ao panorama poético, naquilo que, pela rota inversa, acaba por contrastar com a excelência da Lírica, pondo assim em destaque os autênticos experimentos no âmbito desse gênero literário.

 

Com efeito, aquele que logra vislumbrar alguma beleza e valor nas criações de vates menos dotados poderá reconhecer o quanto elas estacionam bem aquém dos páramos da perfeição na arte e, por conseguinte, o quão significativa é a diversidade na estatura dos poetas: se há profusos vales nessa paisagem tão matizada, há também cadeias de montanhas – ainda que pareçam se rarefazer em meio às nébulas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Armindo Trevisan

(n. 1933)

 

Para onde foram os bons poetas?

 

Terá alguém ouvido falar

em Kosztolányi Dezsfi?

 

Foi um poeta que deu uma bofetada

nos poetas:

 

– Que comovente, um mau poeta. Não falam dele

há muitos anos; depois, lentamente, esquecem-no.

 

Irmão da Hungria:

conseguiste atingir nosso coração.

 

Eu sou um mau poeta.

 

Um mau poeta é a garantia

de que a Poesia não se extinguirá.

 

Todo mau poeta assemelha-se

a uma mulher que nasceu

sem uma perna.

 

O público, que a vê,

tira a conclusão:

 

– Se a perna da mulher coxa

é bela,

como não o seriam duas pernas

juntas?

 

Obviamente, isto não é poesia.

 

Ou melhor: é poesia de mau poeta.

 

Conclui-se do exposto

que devem existir bons poetas.

 

A má poesia da trama

(Mark Kostabi: artista norte-americano)

 

Referência:

 

TREVISAN, Armindo. Para onde foram os bons poetas? In: __________. Adega imaginária & O relincho do cavalo adormecido: poesia. 1. ed. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 147.

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