Pode parecer até
contraditório, mas Trevisan leva à frente a tese de que os maus poetas são
fundamentais para a sobrevivência da poesia, pois que a presença deles permite
conferir legibilidade ao panorama poético, naquilo que, pela rota inversa,
acaba por contrastar com a excelência da Lírica, pondo assim em destaque os
autênticos experimentos no âmbito desse gênero literário.
Com efeito, aquele
que logra vislumbrar alguma beleza e valor nas criações de vates menos dotados
poderá reconhecer o quanto elas estacionam bem aquém dos páramos da perfeição
na arte e, por conseguinte, o quão significativa é a diversidade na estatura dos
poetas: se há profusos vales nessa paisagem tão matizada, há também cadeias de
montanhas – ainda que pareçam se rarefazer em meio às nébulas.
J.A.R. – H.C.
Armindo Trevisan
(n. 1933)
Para onde foram os
bons poetas?
Terá alguém ouvido
falar
em Kosztolányi Dezsfi?
Foi um poeta que deu
uma bofetada
nos poetas:
– Que comovente, um
mau poeta. Não falam dele
há muitos anos;
depois, lentamente, esquecem-no.
Irmão da Hungria:
conseguiste atingir
nosso coração.
Eu sou um mau poeta.
Um mau poeta é a
garantia
de que a Poesia não
se extinguirá.
Todo mau poeta
assemelha-se
a uma mulher que
nasceu
sem uma perna.
O público, que a vê,
tira a conclusão:
– Se a perna da
mulher coxa
é bela,
como não o seriam
duas pernas
juntas?
Obviamente, isto
não é poesia.
Ou melhor: é poesia
de mau poeta.
Conclui-se do exposto
que devem existir
bons poetas.
A má poesia da trama
(Mark Kostabi:
artista norte-americano)
Referência:
TREVISAN, Armindo.
Para onde foram os bons poetas? In: __________. Adega imaginária & O
relincho do cavalo adormecido: poesia. 1. ed. Porto Alegre, RS: L&PM,
2013. p. 147.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário