Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Micheliny Verunschk - Cerco

Jogando com as palavras entre o sutil e o abstrato, a poetisa pernambucana leva o seu poema a permear-se pela natureza evasiva e cambiante da linguagem, evocando a sua riqueza e diversidade, a abarcar tanto o suave e melódico quanto o áspero e frio, não se deixando, por conseguinte, limitar por convenções glossológicas, advindas dos estatutos da república literária.

 

A palavra, tensionada por todos os lados, esgueira-se entre a tangibilidade do signo e a fluidez dispersante dos seus significados, metamorfoseando-se a cada contexto, infensa a todas as formas de emolduramento, como um bicho que se afasta tão logo o humano predador lhe tenta impor um “cerco”, preferindo manter-se como hipótese em meio à folhagem exuberante do vergel interpretativo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Micheliny Verunschk

(n. 1972)

 

Cerco

 

Urna palavra

espreita

e se esgueira

entre todas as frases

não lidas.

Lambe,

com um longo l,

suas próprias letras,

desde as vogais atentas

as consoantes hirsutas de frio.

Salta as armadilhas do poema.

Escapa

a todo laço,

dedos,

canetas,

memória,

dicionário.

Estala,

folha seca.

Mineraliza-se,

sólido concreto.

Respira ofegante

como quem se afoga

ou antecipa o bote.

Transforma-se

em inúmeros bichos

e foge.

 

Uivos de um lobo: memórias de um poeta

(Dia al-Azzawi: artista iraquiano)

 

Referência:

 

VERUNSCHK, Micheliny. Cerco. Cuadernos Hispanoamericanos. Literatura brasileña hoy / Literatura brasileira hoje. Edición bilingüe: portugués x español. Madrid (ES), v. 735, p. 135-136, sep. 2011. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 nov. 2024.

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