O poeta nos convida a
contemplarmos em silêncio a riqueza de nossos pensamentos e emoções, expandindo
nossa interioridade aos confins de um céu estrelado de mistérios, que não se dão
a conhecer abertamente aos outros, num canto harmônico liberto das distrações e
dos ruídos do mundo, como que a ratificar que o silêncio tem mais poder que as
palavras.
É que a linguagem,
muitas vezes, mostra-se inadequada para se expressar o quanto de discernimento
há no interior de uma pessoa, isto quando não é empregada para se tergiversar
sobre a própria realidade, causando mal-entendidos. Tendo sido Tiutchev um
diplomata de profissão, logo se percebe o matiz cauteloso por trás da preleção
do poeta, algo semelhante, aliás, à tão reverberada máxima de Wittgenstein: “Sobre
o que não se pode falar, deve-se calar”!
J.A.R. – H.C.
Fiodor Tiutchev
(1803-1873)
Silentium!
Молчи, скрывайся и таи
И чувства и мечты свои –
Пускай в душевной глубине
Встают и заходят оне
Безмолвно, как звезды в ночи, –
Любуйся ими – и молчи.
Как сердцу высказать себя?
Другому как понять тебя?
Поймет ли он, чем ты живешь?
Мысль изреченная есть ложь –
Взрывая, возмутишь ключи,
Питайся ими – и молчи…
Лишь жить в себе самом умей –
Есть целый мир в душе твоей
Таинственно-волшебных дум –
Их оглушит наружный шум,
Дневные разгонят лучи –
Внимай их пенью – и молчи!..
Uma carta de amor
(Władysław Czachórsk: pintor polonês)
Silentium!
Ao silêncio te
abalança,
guarda anseios e
esperanças
em teu abismo de
estrelas,
lá, onde brilham qual
velas,
contempla na alma sagrada,
contempla sem dizer
nada!
Como abrir teu
coração?
Como dizer teu
desvão?
Quanto vale tua
verdade?
Fora, tudo é
falsidade.
Deixa a fonte
imperturbada,
e bebe sem dizer
nada!
Aprende co’a solidão:
moram em teu coração
mistérios e melodias,
que fogem da luz do
dia
e dos rumores da
estrada,
ouve o canto e não
diz nada!...
Referências:
Em Russo
ТЮТЧЕВ, Федор. Silentium! Disponível neste endereço. Acesso em: 15 nov. 2024.
Em Português
TIUTCHEV, Fiodor. Silentium! Tradução de Luís de Castro. Poesia sempre: revista semestral de poesia. Publicação da Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro (RJ), ano 7, n. 10, p. 52, abr. 1999.
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