Com reflexões especulativas,
recorrendo até mesmo a uma lenda medieval, um rapaz galante corteja uma jovem,
num jogo romântico que se estabelece sob o brilho da lua: algo comedidas, embora
pretensiosas, suas investidas acabam por revelar-se infrutíferas, haja vista
que retóricas e divagatórias, sem poder para arrastar a moça para o turbilhão
de suas reais intenções.
Ao som de um noturno,
a conversa evolui num tom de “não querer, querendo”, num viés que se arrefece a
cada réplica da jovem – resolutamente indiferente –, a ponto de o galanteador
concluir que os mistérios da “louca poética”, então por ambos levada a efeito, não
logra subsistir em consequência dos golpes, por ela desferidos, nos flancos de
seu ambíguo querer.
J.A.R. – H.C.
T. S. Eliot
(1888-1965)
Conversation Galante
I observe: ‘Our
sentimental friend the moon!
Or possibly (fantastic,
I confess)
It may be Prester
John’s balloon
Or an old battered
lantern hung aloft
To light poor
travellers to their distress:
She then: ‘How you
dIgress!’
And I then: ‘Someone
frames upon the keys
That exquisite
nocturne, with which we explain
The night and moonshine;
music which we seize
To body forth our own
vacuity.’
She then: ‘Does this
refer to me?’
‘Oh no, it is I who
am mane.’
‘You, madam, are the
eternal humorist,
The eternal enemy of
the absolute,
Giving our vagrant
moods the slightest twist!
With your air indifferent
and imperious
At a stroke our mad
poetics to confute –’
And – ‘Are we then so
serious?’
Harvard (1909-10)
In: “Prufrock and
Other Observations” (1917)
South Bay à noite com
lua cheia
(Walter L. Meegan:
pintor inglês)
Conversa Galante
Observo: ‘Nossa
sentimental amiga, a Lua!
Ou talvez (é
fantástico, admito)
Seja o balão do
Preste João que agora fito
Ou uma velha e baça
lanterna suspensa no ar
Alumiando pobres
viajantes rumo a seu pesar.’
E ela: ‘Como
divagais!’
Eu, então: ‘Alguém
modula no teclado
Esse noturno raro,
com que explicamos
A noite e o luar;
partitura que roubamos
Para dar forma ao
nosso nada.’
E ela: ‘Me dirá isso
respeito?’
‘Oh, não! Eu é que de
vazios sou apenas feito.’
‘Vós, senhora, sois a
perene ironia,
A eterna inimiga do
absoluto,
A que mais de leve
torce nossa tristeza erradia!
Com vosso ar
indiferente e resoluto,
De um golpe cortais à
nossa louca poética os seus mistérios...’
E ela: ‘Seremos
afinal assim tão sérios?’
Harvard (1909-10)
Em: “Prufrock e
Outras Observações” (1917)
Referências:
Em Inglês
ELIOT, T. S. Conversation
galante. In: __________. Collected poems: 1909-1962. New York, NY: Harcourt, Brace &
World, 1963. p. 25.
Em Português
ELIOT, T. S. Conversa
galante. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poesia. Tradução,
introdução e notas de Ivan Junqueira. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova
Fronteira, 1981. p. 74. (Coleção ‘Poiesis’)
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