Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 12 de setembro de 2023

T. S. Eliot - Conversa Galante

Com reflexões especulativas, recorrendo até mesmo a uma lenda medieval, um rapaz galante corteja uma jovem, num jogo romântico que se estabelece sob o brilho da lua: algo comedidas, embora pretensiosas, suas investidas acabam por revelar-se infrutíferas, haja vista que retóricas e divagatórias, sem poder para arrastar a moça para o turbilhão de suas reais intenções.

 

Ao som de um noturno, a conversa evolui num tom de “não querer, querendo”, num viés que se arrefece a cada réplica da jovem – resolutamente indiferente –, a ponto de o galanteador concluir que os mistérios da “louca poética”, então por ambos levada a efeito, não logra subsistir em consequência dos golpes, por ela desferidos, nos flancos de seu ambíguo querer.

 

J.A.R. – H.C.

 

T. S. Eliot

(1888-1965)

 

Conversation Galante

 

I observe: ‘Our sentimental friend the moon!

Or possibly (fantastic, I confess)

It may be Prester John’s balloon

Or an old battered lantern hung aloft

To light poor travellers to their distress:

She then: ‘How you dIgress!’

 

And I then: ‘Someone frames upon the keys

That exquisite nocturne, with which we explain

The night and moonshine; music which we seize

To body forth our own vacuity.’

She then: ‘Does this refer to me?’

‘Oh no, it is I who am mane.’

 

‘You, madam, are the eternal humorist,

The eternal enemy of the absolute,

Giving our vagrant moods the slightest twist!

With your air indifferent and imperious

At a stroke our mad poetics to confute –’

And – ‘Are we then so serious?’

 

Harvard (1909-10)

In: “Prufrock and Other Observations” (1917)

 

South Bay à noite com lua cheia

(Walter L. Meegan: pintor inglês)

 

Conversa Galante

 

Observo: ‘Nossa sentimental amiga, a Lua!

Ou talvez (é fantástico, admito)

Seja o balão do Preste João que agora fito

Ou uma velha e baça lanterna suspensa no ar

Alumiando pobres viajantes rumo a seu pesar.’

E ela: ‘Como divagais!’

 

Eu, então: ‘Alguém modula no teclado

Esse noturno raro, com que explicamos

A noite e o luar; partitura que roubamos

Para dar forma ao nosso nada.’

E ela: ‘Me dirá isso respeito?’

‘Oh, não! Eu é que de vazios sou apenas feito.’

 

‘Vós, senhora, sois a perene ironia,

A eterna inimiga do absoluto,

A que mais de leve torce nossa tristeza erradia!

Com vosso ar indiferente e resoluto,

De um golpe cortais à nossa louca poética os seus mistérios...’

E ela: ‘Seremos afinal assim tão sérios?’

 

Harvard (1909-10)

Em: “Prufrock e Outras Observações” (1917)

 

Referências:

 

Em Inglês

 

ELIOT, T. S. Conversation galante. In: __________. Collected poems:  1909-1962. New York, NY: Harcourt, Brace & World, 1963. p. 25.

 

Em Português

 

ELIOT, T. S. Conversa galante. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poesia. Tradução, introdução e notas de Ivan Junqueira. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1981. p. 74. (Coleção ‘Poiesis’)

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