Em linhas
desesperançadas, o poeta alemão discorre sobre as impossibilidades de uma
felicidade genuína, haja vista que a vida não consistiria senão em um mar de “contradições”,
tudo se passando como se em consumadas denegações existenciais de um homem
instável e atormentado.
Por trás de um estilo
esmerado, pode-se deduzir certa contenção expressiva, a impedir que se conheçam
os reais motivos de precitado desalento: muitos dos comentários sobre a obra de
Platen enfatizam os efeitos que, sobre ela, teriam desencadeado as frustrações
de ordem afetiva do autor, a quem eram atribuídas tendências homossexuais.
J.A.R. – H.C.
August von Platen
Retratado por Moritz Rugendas
(1796-1835)
Wer wußte je das
Leben recht zu fassen
Wer wußte je das
Leben recht zu fassen,
Wer hat die Hälfte
nicht davon verloren
Im Traum, im Fieber,
im Gespräch mit Toren,
In Liebesqual, im
leeren Zeitverprassen?
Ja, der sogar, der
ruhig und gelassen,
Mit dem Bewußtsein,
was er soll, geboren,
Frühzeitig einen
Lebensgang erkoren,
Muß vor des Lebens
Widerspruch erblassen.
Denn Jeder hofft
doch, daß das Glück ihm lache,
Allein das Glück,
wenn‘s wirklich kommt, ertragen,
Ist keines Menschen,
wäre Gottes Sache.
Auch kommt es nie,
wir wünschen bloß und wagen:
Dem Schläfer fällt es
nimmermehr vom Dache,
Und auch der Läufer
wird es nicht erjagen.
O significado da vida
(Sergey Martyn:
artista russo)
Quem algum dia soube a vida compreender
Quem algum dia soube
a vida compreender,
Quem a metade dela
não perdeu
No sonho, na febre,
na conversa com tolos,
No tormento do amor,
na perda vazia do tempo?
Sim, até mesmo aquele
que, tranquilo e plácido,
Tendo nascido sabendo
o que deve fazer
E cedo escolhido o
caminho da vida
Deve empalidecer
diante da contradição da vida.
Pois cada um espera,
sim, que a fortuna o afague,
Mas quando essa
fortuna deveras chega, suportar
Não é do ser humano,
seria de Deus o objeto.
Ademais, isso nunca
ocorre, só ansiamos e ousamos:
Ao ocioso, ela nunca
mais cairá do telhado,
E tampouco o
diligente irá alcançá-la.
Referência:
PLATEN, August von. Wer
wußte je das leben recht zu fassen / Quem algum dia soube a vida compreender. Tradução
de Dionei Mathias. (n.t.) Revista Literária em Tradução, Florianópolis
(SC), ano 11, n. 22, 1. vol., jun. 2021. Em alemão: p. 44; em português: p. 47.
Disponível neste endereço. Acesso em: 3 set.
2023.
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