Penso que se pode
associar ao homem o animal a que se refere o ente lírico no infratranscrito
poema, em seu afã de atingir o sucesso custe o que custar, como se a realidade
material incorporasse tudo o que faz sentido na vida de um ser humano: há quem
refute a tese de que dinheiro não traz felicidade, objetando de forma pilhérica –
“decerto: manda buscar!”
Mas o fato é que um
contingente incalculável de pessoas, tendo atingido o ápice de suas possibilidades
financeiras ou utilitárias, cai num vazio existencial, ao perceber que o dinheiro
não é capaz de comprar um amor genuíno ou mesmo restabelecer a saúde degradada
pela azáfama da subida: agora, no talude vertente, o viandante terá que descer a
montanha, pondo-se a refletir em como tornar-se uma pessoa melhor.
J.A.R. – H.C.
Leonardo Fróes
(n. 1941)
Introdução à Arte das
Montanhas
Um animal passeia nas
montanhas.
Arranha a cara nos
espinhos do mato, perde o fôlego
mas não desiste de
chegar ao ponto mais alto.
De tanto andar
fazendo esforço se torna
um organismo em
movimento reagindo a passadas,
e só. Não sente fome
nem saudade nem sede,
confia apenas nos
instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para
cima, o animal é um ímã,
numa escala de
formiga, que as montanhas atraem.
Conhece alguma
liberdade, quando chega ao cume.
Sente-se disperso
entre as nuvens,
acha que reconheceu
seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem
de aprender a descer.
Escoteiros escalando
uma montanha
(Frederic S. Remington:
ilustrador norte-americano)
Referência:
FRÓES, Leonardo.
Introdução à arte das montanhas. In: __________. Vertigens. obra reunida
(1968-1998). Edição fixada e revista pelo autor, com textos introdutórios de
José Thomaz Brum, Ciro Barroso e Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: Rocco,
1998. p. 243.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário