Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Frances Brent - Figura e Mariposa

Poemas que fazem referência a telas de grandes artistas são bastante comuns, alguns a partir dos quais se podem identificar claramente as pinturas a que dizem respeito; outros, porém, movem o leitor a uma procura que, nem sempre, resulta em sucesso (pelo menos para este comentador!) – a exemplo do infratranscrito poema, presumivelmente a descrever imagens apreciadas por sua autora.


Nem mesmo logrei concluir se as três estrofes são concernentes a uma mesma tela ou têm a ver com três pinturas distintas, muito embora a segunda hipótese me pareça mais provável. Afinal, há elementos nos versos que sugerem algo que se passa no interior de uma habitação, outros no exterior – a exemplo da linha a aludir a uma bomba de poço –, indicativos que, salvo engano, engendrariam contratempos para um arranjo adequado que a tudo contemplasse. Contudo, para os artistas, o céu é o limite!


Outra alternativa poderia ser deduzida do título do poema – “Figura e Mariposa” –, com as duas primeiras estrofes a se referirem à “Figura” e a terceira à “Mariposa”, neste caso, um importuno lepidóptero que se imiscuiu no repasto da falante, oportunidade em que esta se aproveitou para criar um liame pictural com o conteúdo das estâncias anteriores.


Em suma: conjecturas de mais, conclusões de menos!


J.A.R. – H.C.

 

Frances Brent

(n. 1950)

 

Figure and Moth

 

The Dutch painters record how the pupil of the eye

accommodates to the candle’s crack of light at the door:

burnished-brown miniature cloud

surrounding the miniature gold crown

of the tallow.

 

Distortion resides in ever-dissolving form:

the impostor appears at a well-pump;

his flaxen limbs relax

after the hosen are unraveled.

 

Someone with perfect brush stroke

must catch this meal moth

circling his incandescence,

down to its dull scales

and powder.

 

Natureza-morta com três nêsperas

(Adriaen Coorte: pintor holandês)

 

Figura e Mariposa

 

Os pintores holandeses registram como a pupila ocular

adapta-se ao raio de luz da vela à porta:

nuvem em miniatura num brunido tom marrom

a rodear a diminuta coroa dourada

do sebo.

 

A distorção consiste em forma sempre dissolvente:

o impostor aparece junto a uma bomba de poço;

seus membros flavos relaxam

depois que desapertadas as calças.

 

Alguém com uma pincelada perfeita

deve apanhar essa mariposa da comida,

voluteando ao redor de sua incandescência,

reduzindo-a às suas baças escamas

e ao pó.

 

Referência:

 

BRENT, Frances. Figure and moth. In: __________. The beautiful lesson of the I: poems. Foreword by Rachel Hadas. Logan, UT: Utah State University Press, 2005. p. 23. (‘May Swenson’ Poetry Award Series)

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