Poemas que fazem referência
a telas de grandes artistas são bastante comuns, alguns a partir dos quais se
podem identificar claramente as pinturas a que dizem respeito; outros, porém,
movem o leitor a uma procura que, nem sempre, resulta em sucesso (pelo menos
para este comentador!) – a exemplo do infratranscrito poema, presumivelmente a descrever
imagens apreciadas por sua autora.
Nem mesmo logrei concluir
se as três estrofes são concernentes a uma mesma tela ou têm a ver com três pinturas
distintas, muito embora a segunda hipótese me pareça mais provável. Afinal, há elementos
nos versos que sugerem algo que se passa no interior de uma habitação, outros
no exterior – a exemplo da linha a aludir a uma bomba de poço –, indicativos que,
salvo engano, engendrariam contratempos para um arranjo adequado que a tudo
contemplasse. Contudo, para os artistas, o céu é o limite!
Outra alternativa poderia
ser deduzida do título do poema – “Figura e Mariposa” –, com as duas primeiras
estrofes a se referirem à “Figura” e a terceira à “Mariposa”, neste caso, um
importuno lepidóptero que se imiscuiu no repasto da falante, oportunidade em
que esta se aproveitou para criar um liame pictural com o conteúdo das estâncias
anteriores.
Em suma: conjecturas
de mais, conclusões de menos!
J.A.R. – H.C.
Frances Brent
(n. 1950)
Figure and Moth
The Dutch painters
record how the pupil of the eye
accommodates to the
candle’s crack of light at the door:
burnished-brown
miniature cloud
surrounding the
miniature gold crown
of the tallow.
Distortion resides in
ever-dissolving form:
the impostor appears
at a well-pump;
his flaxen limbs
relax
after the hosen are
unraveled.
Someone with perfect
brush stroke
must catch this meal
moth
circling his
incandescence,
down to its dull
scales
and powder.
Natureza-morta com
três nêsperas
(Adriaen Coorte:
pintor holandês)
Figura e Mariposa
Os pintores
holandeses registram como a pupila ocular
adapta-se ao raio de luz
da vela à porta:
nuvem em miniatura
num brunido tom marrom
a rodear a diminuta
coroa dourada
do sebo.
A distorção consiste em
forma sempre dissolvente:
o impostor aparece junto
a uma bomba de poço;
seus membros flavos
relaxam
depois que desapertadas
as calças.
Alguém com uma
pincelada perfeita
deve apanhar essa
mariposa da comida,
voluteando ao redor
de sua incandescência,
reduzindo-a às suas baças
escamas
e ao pó.
Referência:
BRENT, Frances. Figure and moth. In: __________. The beautiful lesson of the I: poems. Foreword by Rachel Hadas. Logan, UT: Utah State University Press, 2005. p. 23. (‘May Swenson’ Poetry Award Series)
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