Costumamos nos preocupar
tanto com o futuro, procurando torná-lo menos incerto por meio de avenças securitárias
– por exemplo –, que deixamos de usufruir o momento presente, com todas as suas
possibilidades. Afinal, na linha do futuro se encontra a morte, como que num
cenário indistinto com as promessas de dias melhores – os quais, desventuradamente,
podem nem sobrevir!...
Pessimismo? Interprete
como quiser o leitor os infratranscritos versos de Larkin: desperdice o agora
imprudentemente e, mais à frente, poderá perceber que as expectativas do
passado não se concretizaram. Antes, melhor valer-se da jornada em meio ao
equilíbrio: nem como cigarra irresponsável, tampouco como formiga sôfrega e
atribulada.
J.A.R. – H.C.
Philip Larkin
(1922-1985)
Next, please
Always too eager for
the future, we
Pick up bad habits of
expectancy.
Something is always
approaching; every day
Till then we say,
Watching from a bluff
the tiny, clear,
Sparkling armada of
promises draw near.
How slow they are!
And how much time they waste,
Refusing to make
haste!
Yet still they leave
us holding wretched stalks
Of disappointment,
for, though nothing balks
Each big approach,
leaning with brasswork prinked,
Each rope distinct,
Flagged, and the
figurehead with golden tits
Arching out way, it
never anchors; it’s
No sooner present
than it turns to past.
Right to the last
We think each one
will heave to and unload
All good into our
lives, all we are owed
For waiting so
devoutly and so long.
But we are wrong:
Only one ship is
seeking us, a black –
Sailed unfamiliar,
towing at her back
A huge and birdless
silence. In her wake
No waters breed or break.
16 January 1951
In: “The Less
Deceived” (1955)
Barco verde e pássaro
(Helga Balaban:
artista búlgara)
O próximo, por favor
Sempre ansiosos
demais quanto ao futuro,
Adquirimos maus
hábitos acerca das expectativas.
Algo sempre está a se
aproximar; a cada dia
Dizemos até então,
Observando de um rochedo
a diminuta, nítida
E cintilante armada
de promessas que se aproxima.
Quão lentas são elas!
E quanto tempo perdem,
Recusando-se a se
apressar!
No entanto, ainda nos
deixam a segurar amargas hastes
De decepção, pois,
embora nada se oponha a cada
Grande aproximação, adernado
com brônzeos arreios,
Cada amarrilho em
particular,
Com seu pendão, e a
carranca com tetas douradas,
Arqueando-se para
fora, jamais ancoram;
Tão logo presentes,
já se tornaram passado.
Até o último momento,
Cremos que vão
aportar e descarregar tudo de bom
Em nossas vidas, tudo
aquilo que se nos deve
Por esperarmos com
tanta devoção e por tanto tempo.
Mas estamos
equivocados:
Apenas um navio está
a nossa procura, um negro –
Pouco versado em
navegar, trazendo a reboque
Um silêncio imenso e
sem pássaros. Em seu curso,
Não se produzem nem
se rompem vagas.
16 de janeiro de 1951
Em: “O Menos Enganado”
(1955)
Referência:
LARKIN, Philip. Next,
please. In: __________. Collected poems. Edited with na introduction by
Anthony Thwaite. First American printing. New York, NY: Farrar, Straus and
Giroux; The Marvell Press, 1989. p. 52.
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