Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

Philip Larkin - O próximo, por favor

Costumamos nos preocupar tanto com o futuro, procurando torná-lo menos incerto por meio de avenças securitárias – por exemplo –, que deixamos de usufruir o momento presente, com todas as suas possibilidades. Afinal, na linha do futuro se encontra a morte, como que num cenário indistinto com as promessas de dias melhores – os quais, desventuradamente, podem nem sobrevir!...

 

Pessimismo? Interprete como quiser o leitor os infratranscritos versos de Larkin: desperdice o agora imprudentemente e, mais à frente, poderá perceber que as expectativas do passado não se concretizaram. Antes, melhor valer-se da jornada em meio ao equilíbrio: nem como cigarra irresponsável, tampouco como formiga sôfrega e atribulada.

 

J.A.R. – H.C.

 

Philip Larkin

(1922-1985)

 

Next, please

 

Always too eager for the future, we

Pick up bad habits of expectancy.

Something is always approaching; every day

Till then we say,

 

Watching from a bluff the tiny, clear,

Sparkling armada of promises draw near.

How slow they are! And how much time they waste,

Refusing to make haste!

 

Yet still they leave us holding wretched stalks

Of disappointment, for, though nothing balks

Each big approach, leaning with brasswork prinked,

Each rope distinct,

 

Flagged, and the figurehead with golden tits

Arching out way, it never anchors; it’s

No sooner present than it turns to past.

Right to the last

 

We think each one will heave to and unload

All good into our lives, all we are owed

For waiting so devoutly and so long.

But we are wrong:

 

Only one ship is seeking us, a black –

Sailed unfamiliar, towing at her back

A huge and birdless silence. In her wake

No waters breed or break.

 

16 January 1951

 

In: “The Less Deceived” (1955)

 

Barco verde e pássaro

(Helga Balaban: artista búlgara)

 

O próximo, por favor

 

Sempre ansiosos demais quanto ao futuro,

Adquirimos maus hábitos acerca das expectativas.

Algo sempre está a se aproximar; a cada dia

Dizemos até então,

 

Observando de um rochedo a diminuta, nítida

E cintilante armada de promessas que se aproxima.

Quão lentas são elas! E quanto tempo perdem,

Recusando-se a se apressar!

 

No entanto, ainda nos deixam a segurar amargas hastes

De decepção, pois, embora nada se oponha a cada

Grande aproximação, adernado com brônzeos arreios,

Cada amarrilho em particular,

 

Com seu pendão, e a carranca com tetas douradas,

Arqueando-se para fora, jamais ancoram;

Tão logo presentes, já se tornaram passado.

Até o último momento,

 

Cremos que vão aportar e descarregar tudo de bom

Em nossas vidas, tudo aquilo que se nos deve

Por esperarmos com tanta devoção e por tanto tempo.

Mas estamos equivocados:

 

Apenas um navio está a nossa procura, um negro –

Pouco versado em navegar, trazendo a reboque

Um silêncio imenso e sem pássaros. Em seu curso,

Não se produzem nem se rompem vagas.

 

16 de janeiro de 1951

 

Em: “O Menos Enganado” (1955)

 

Referência:

 

LARKIN, Philip. Next, please. In: __________. Collected poems. Edited with na introduction by Anthony Thwaite. First American printing. New York, NY: Farrar, Straus and Giroux; The Marvell Press, 1989. p. 52.

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