Um bom poema deve ter
“resiliência” para suportar de tudo, “más traduções” e mesmo as “interpretações
abusivas” de seus comentadores ou simples leitores. Mais do que isso: um bom
poema deve resistir à superexposição, sem tornar-se fastidioso, haja vista que
se presume que deva ser um antídoto à indiferença.
A par do que o poeta
mexicano declina em seus versos, ousaria apresentar uma metáfora para aquilo
que se me parece um poema de real valor: um grande poema nos brinda com
combinações variadas de efeitos, como se um caleidoscópio fosse, permitindo-nos
apreciá-lo de múltiplos ângulos, sem que se esgotem tão prematuramente suas
possibilidades de exame.
J.A.R. – H.C.
Alberto Blanco
(n. 1951)
Un Buen Poema
A Wisława Szymborska
Un buen poema
debe tener la fuerza
suficiente
para aguantar de
todo:
Ediciones caseras,
malas traducciones,
errores de
ortografía, erratas,
machetazos a caballo
de espadas,
cartas de amor,
bibliotecas
olvidadas,
programas de
televisión,
películas de arte,
películas de las
otras,
ironías de la vida,
correcciones de
última hora,
internet,
manifiestos,
revoluciones,
malos gobiernos,
conversaciones de
café,
confesiones de media
noche,
días con sol, días
nublados,
buenas críticas,
malas críticas,
cero críticas.
Un buen poema
debe ser lo
suficientemente fuerte
como para soportar
interpretaciones
abusivas,
cursos escolares,
tesis,
musicalizaciones,
antologías,
presentaciones,
lecturas colectivas,
homenajes, plagios,
epígrafes,
dedicatorias,
obras completas.
Uma Alegoria da
Poesia
(Eustache Le Sueur:
artista francês)
Um Bom Poema
A Wisława Szymborska
Um bom poema
deve ter força suficiente
para resistir a tudo:
Edições caseiras,
más traduções,
erros de ortografia,
erratas,
cutelaços a cavalo de
espadas, (*)
cartas de amor,
bibliotecas
esquecidas,
programas de
televisão,
filmes de arte,
filmes de outras
classes,
ironias da vida,
correções de última
hora,
internet,
manifestos,
revoluções,
maus governos,
conversas de café,
confissões de
meia-noite,
dias com sol, dias
nublados,
boas críticas,
más críticas,
zero críticas.
Um bom poema
deve ser
suficientemente forte
para suportar
interpretações
abusivas,
cursos escolares,
teses,
musicalizações,
antologias,
apresentações,
leituras coletivas,
homenagens, plágios,
epígrafes,
dedicatórias,
obras completas.
Nota:
(*). Trata-se de uma
expressão mexicana para significar uma conquista excepcional, fora das
expectativas, de uma dada parte contra um concorrente muito mais habilitado
para tanto; no contexto em apreço, se poderia deduzir que o ente lírico esteja
a falar de poemas de significativo valor, estagnados e incógnitos em recolhas
expostas nas prateleiras das livrarias, superados em publicidade, nada
obstante, por outros que nem comportam tanto mérito.
Referência:
BLANCO, Alberto. Un
buen poema. In: __________. La hora y la neblina. 2. ed. México, D.F.: Fondo
de Cultura Económica (FCE), 2018. p. 314-315. (Colección ‘Poesía’)
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