A passagem do tempo
na vida dos humanos, sua drenagem inexorável, se nos apresenta deveras “doída”,
em razão de termos consciência de nossa finitude – e manter serenidade, diante
dos percalços que costumam sobrevir ao nosso estado de saúde, muito se parece a
um propósito tão ínsito à doutrina dos estoicos.
A contagem do tempo
de vida que nos sobra é como a parte da fina areia que se encontra na parte de
cima de uma ampulheta, sempre numa operação de subtração, jamais de adição: o
ser e o não ser conjugados na seta do efêmero, transmutando-se de um a outro, da
criação à destruição, do nascimento à morte.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Ricardo
(1895-1974)
Relógio
Diante de coisa tão
doída
conservemo-nos
serenos.
Cada minuto de vida
nunca é mais, é
sempre menos.
Ser é apenas uma face
do não ser, e não do
ser.
Desde o instante em
que se nasce
já se começa a
morrer.
Mãos do Tempo
(Andrew Judd: artista
canadense)
Referência:
RICARDO, Cassiano.
Relógio. In: RODRIGUES, Claufe; MAIA, Alexandra (Orgs.). 100 anos de poesia:
um panorama da poesia brasileira do século XX. Vol. I. Rio de Janeiro, RJ: O
Verso Edições, 2001. p. 125.
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