Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 5 de setembro de 2023

Cassiano Ricardo - Relógio

A passagem do tempo na vida dos humanos, sua drenagem inexorável, se nos apresenta deveras “doída”, em razão de termos consciência de nossa finitude – e manter serenidade, diante dos percalços que costumam sobrevir ao nosso estado de saúde, muito se parece a um propósito tão ínsito à doutrina dos estoicos.

 

A contagem do tempo de vida que nos sobra é como a parte da fina areia que se encontra na parte de cima de uma ampulheta, sempre numa operação de subtração, jamais de adição: o ser e o não ser conjugados na seta do efêmero, transmutando-se de um a outro, da criação à destruição, do nascimento à morte.

 

J.A.R. – H.C.

 

Cassiano Ricardo

(1895-1974)

 

Relógio

 

Diante de coisa tão doída

conservemo-nos serenos.

 

Cada minuto de vida

nunca é mais, é sempre menos.

 

Ser é apenas uma face

do não ser, e não do ser.

 

Desde o instante em que se nasce

já se começa a morrer.

 

Mãos do Tempo

(Andrew Judd: artista canadense)

 

Referência:

 

RICARDO, Cassiano. Relógio. In: RODRIGUES, Claufe; MAIA, Alexandra (Orgs.). 100 anos de poesia: um panorama da poesia brasileira do século XX. Vol. I. Rio de Janeiro, RJ: O Verso Edições, 2001. p. 125.

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