Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Mariazinha Congílio - Divisão de Bens

A voz lírica, presumivelmente de uma senhora em situação de separação ou de divórcio de seu companheiro, propõe uma “equitativa” divisão de bens ao término do relacionamento: com ele ficam todas as coisas que foram adquiridas com os seus próprios recursos – “piano, casa, joias, carro, livros” – e, com ela, tão apenas a propriedade de seu corpo e mente, a qual, obviamente, não lhe pode ser subtraída.

 

Mais do que isso: vê-se que a falante sentia-se “aprisionada” no convívio matrimonial, haja vista que sublinha, em particular, a recuperação da liberdade de ação, de poder voltar a ser e estar em conformidade com o seu próprio arbítrio, sem satisfações a dar a ninguém. Ou como diria o vate latino: liberdade ainda que tardia!

 

J.A.R. – H.C.

 

Mariazinha Congílio

(1928-2004)

 

Divisão de Bens

 

Com você pode ficar

o piano, casa, joias, carro, livros.

Dos quadros só levo a marinha.

Não quero vitrola, televisão ou rádio.

Para uma separação de bens equitativa

você fica com tudo que é seu.

Fico comigo.

Isso não é muito. Mas basta.

Levarei os braços cansados,

os olhos tristes, a esperança vã.

Levarei tristeza e saudade.

O riso já não mais existe.

E muito bem acondicionada,

levarei a liberdade.

Adeus.

 

Separação

(Edvard Munch: pintor norueguês)

 

Referência:

 

CONGÍLIO, Mariazinha. Divisão de bens. In: BASTOS, Abguar et al. 50 poetas do Clube de Poesia: 1945-1995. Prefácio de Ives Gandra da Silva Martins; São Paulo, SP: Clube de Poesia, 1995. p. 95.

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