Os jovens, no mais
das vezes, são impetuosos, autoconfiantes, frequentemente convictos de suas certezas
e verdades, o que os leva a pensar que podem mudar o mundo – e muitos deles o
conseguem à sua maneira, muito embora esse não seja um padrão recorrente.
O poeta olha para
trás e percebe com clareza o mar de ilusões em que então submerso, mas bem pondera
que a juventude é, por natureza, a sazão dos sonhos e não há razões para tirar
o encanto à vida, a alegria daquilo que há pouco começou, o jorrar de uma
cornucópia de possibilidades, incontendível irrupção de energia por meio da
qual o universo se renova!
J.A.R. – H.C.
Esmerino M. Júnior
(1939-1996)
A Fábrica de Certezas
Eu era um tanto tolo
e a vida imensa.
Quanta coisa por
saber e uma infinita crença
nos ismos que
catalogavam todos nossos atos.
Quanto mundo, quanta
insânia e quanto sonho.
E eu, quixote de
intenções tão desastrosas,
comungava vagas
utopias, construía catedrais
de ideias generosas
que desabavam mês a mês:
minhas certezas.
Mas para que saber
alguma coisa desse mundo
no mar de dúvidas de
inúteis astrolábios?
Para que Norte
distante dos meus sonhos
me guiaram bússolas,
sextantes, alfarrábios?
Quem fabricaria por
mim, com precisão,
os meus enganos?
Inútil como exorcizar
as pedras excogitar a vida
se a gente tem apenas
dezessete anos.
Aeronavegação ao
deitar-se
(Robert Gonsalves: artista
canadense)
Referência:
MAGALHÃES JÚNIOR,
Esmerino. A fábrica de certezas. In: SOUZA, Aglaia et al. Caliandra:
poesia em Brasília. Brasília, DF: André Quicé Editor, 1995. p. 78.
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