Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Esmerino Magalhães Júnior - A Fábrica de Certezas

Os jovens, no mais das vezes, são impetuosos, autoconfiantes, frequentemente convictos de suas certezas e verdades, o que os leva a pensar que podem mudar o mundo – e muitos deles o conseguem à sua maneira, muito embora esse não seja um padrão recorrente.

 

O poeta olha para trás e percebe com clareza o mar de ilusões em que então submerso, mas bem pondera que a juventude é, por natureza, a sazão dos sonhos e não há razões para tirar o encanto à vida, a alegria daquilo que há pouco começou, o jorrar de uma cornucópia de possibilidades, incontendível irrupção de energia por meio da qual o universo se renova!

 

J.A.R. – H.C.

 

Esmerino M. Júnior

(1939-1996)

 

A Fábrica de Certezas

 

Eu era um tanto tolo e a vida imensa.

Quanta coisa por saber e uma infinita crença

nos ismos que catalogavam todos nossos atos.

Quanto mundo, quanta insânia e quanto sonho.

E eu, quixote de intenções tão desastrosas,

comungava vagas utopias, construía catedrais

de ideias generosas que desabavam mês a mês:

minhas certezas.

Mas para que saber alguma coisa desse mundo

no mar de dúvidas de inúteis astrolábios?

Para que Norte distante dos meus sonhos

me guiaram bússolas, sextantes, alfarrábios?

Quem fabricaria por mim, com precisão,

os meus enganos?

Inútil como exorcizar as pedras excogitar a vida

se a gente tem apenas dezessete anos.

 

Aeronavegação ao deitar-se

(Robert Gonsalves: artista canadense)

 

Referência:

 

MAGALHÃES JÚNIOR, Esmerino. A fábrica de certezas. In: SOUZA, Aglaia et al. Caliandra: poesia em Brasília. Brasília, DF: André Quicé Editor, 1995. p. 78.

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