Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

J. W. Goethe - Canto dos Espíritos sobre as Águas

A alma do homem, segundo Goethe, se parece à água, naquilo que ela tem de fluida, de impermanente, indo e vindo ao sabor do tempo: de Deus provém e a ele voltará um dia. A ideia de fluxo também é por ele empregada para aclarar o que seja o destino humano, enquanto vento com poder para empurrar as águas a pontos revoltos ou bonançosos.

 

Vontades que se despedaçam contra penhascos, arroubos que vão de encontro a forças de um destino nem sempre condescendente, a vida humana é bem essa corrente entre paixões tempestuosas e estados tranquilos, um caminhar irretornável do pico ao vale, até que, por fim, uma passagem se abre entre as cidades de baixo e de cima.

 

J.A.R. – H.C.

 

J. W. Goethe

Detalhe de Retrato por Angelica Kauffmann

(1749-1832)

 

Gesang der Geister über den Wassern

 

Des Menschen Seele

Gleicht dem Wasser:

Vom Himmel kommt es,

Zum Himmel steigt es,

Und wieder nieder

Zur Erde muss es,

Ewig wechselnd.

 

Strömt von der hohen,

Steilen Felswand

Der reine Strahl,

Dann stäubt er lieblich

In Wolkenwellen

Zum glatten Fels,

Und leicht empfangen

Wallt er verschleiernd,

Leisrauschend

Zur Tiefe nieder.

 

Ragen Klippen

Dem Sturz entgegen,

Schäumt er unmutig

Stufenweise

Zum Abgrund.

 

Im flachen Bette

Schleicht er das Wiesental hin,

Und in dem glatten See

Weiden ihr Antlitz

Alle Gestirne.

 

Wind ist der Welle

Lieblicher Buhler;

Wind mischt vom Grund aus

Schäumende Wogen.

 

Seele des Menschen,

Wie gleichst du dem Wasser!

Schicksal des Menschen,

Wie gleichst du dem Wind!

 

O homem pensante

(Ang Kiukok: pintor filipino)

 

Canto dos Espíritos sobre as Águas

 

A alma do homem

É como a água:

Do céu vem,

Ao céu sobe,

E de novo tem

Que descer à terra,

Em mudança eterna.

 

Corre do alto

Rochedo a pino

O veio puro,

Então em belo

Pó de ondas de névoa

Desce à rocha lisa,

E acolhido de manso

Vai, tudo velando,

Em baixo murmúrio.

Lá para as profundas.

 

Erguem-se penhascos

De encontro à queda,

– Vai, ’spumando em raiva,

Degrau em degrau

Para o abismo.

 

No leito baixo

Desliza ao longo do vale relvado,

E no lago manso

Pascem seu rosto

Os astros todos.

 

Vento é da vaga

O belo amante;

Vento mistura do fundo ao cimo

Ondas ’spumantes.

 

Alma do Homem,

És bem como a água!

Destino do homem,

És bem como o vento!

 

Referência:

 

GEOTHE, J. W. Gesang der geister über den wassern / Canto dos espíritos sobre as águas. Tradução de Paulo Quintela. In: __________. Poemas. Antologia, versão portuguesa, notas e comentários de Paulo Quintela; 4. ed. Coimbra: Centelha – Promoção do Livro, SARL, 1986. Em alemão: p. 36 e 38; em português: p. 37 e 39. (Poesia / Autores Universais – 1)

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