De uma pequena estrela
no firmamento, da qual o pequeno gato do falante, decerto, não faz nenhuma
ideia de seu tamanho real – provavelmente maior que a própria terra e suas belezas
–, a um giro de conotação, para equipará-la ao próprio bichano de olhos “azul-safira”
e sua importância na vida de seu dono.
No plano das
extensões do tempo de vida, maior para o ente lírico, não mitiga a sua
inquietação a máxima de que um gato tem “sete vidas”, afinal, a vida média de
um bichano, de fato, limita-se a uns 12-18 anos, e de um amor ilimitado pelo
animal haverá de resultar, naturalmente, uma dor que desde logo se antecipa.
J.A.R. – H.C.
Ferreira Gullar
(1930-2016)
A estrela
Gatinho, meu amigo,
fazes ideia do que
seja uma estrela?
Dizem que todo este
nosso imenso planeta
coberto de oceanos e
montanhas
é menos que um grão
de poeira
se comparado a uma
delas
Estrelas são
explosões nucleares em cadeia
numa sucessão que
dura bilhões de anos
O mesmo que a
eternidade
Não obstante,
Gatinho, confesso
que pouco me importa
quanto dura uma
estrela
Importa-me quanto
duras tu,
querido amigo,
e esses teus olhos
azul-safira
com que me fitas
Alcançando as
estrelas
(Alessandra Rosi:
pintora italiana)
Referência:
GULLAR, Ferreira. A
estrela. In: FERREIRA DA SILVA, Dora et al. Boa companhia: poesia. 1.
ed., 1. reimp. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2005. p. 65.
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