Aparentemente, a
julgar pelo tom do reiterado refrão deste poema, o falante, na voz de uma
criança, deplora o fato de haver perdido a mãe ainda em idade muito tenra,
circunstância que lhe deixou marcas indeléveis na memória: a repetição da
palavra “ninguém”, nas estâncias finais do poema, reforça a ideia de solidão e desalento
a lhe assolar diuturnamente.
O poeta justapõe
palavras com sentidos antagônicos – a exemplo de “silêncio” x “choro” e “sol” x
“frio” – como forma de enfatizar a turbulência que vai na mente dessa criança: mesmo
a “fuga”, deduzível dos derradeiros versos, não deixa de ocorrer em completa
solidão – e para onde? Aqui caberia um arremate de Drummond: “Quer ir para
Minas, Minas não há mais. José, e agora?”.
J.A.R. – H.C.
Louis MacNeice
(1907-1963)
Autobiography
In my childhood trees
were green
And there was plenty
to be seen.
Come back early or
never come.
My father made the
walls resound,
He wore his collar
the wrong way round.
Come back early or
never come.
My mother wore a
yellow dress;
Gently, gently,
gentleness.
Come back early or
never come.
When I was five the
black dreams came;
Nothing after was
quite the same.
Come back early or
never come.
The dark was talking
to the dead;
The lamp was dark
beside my bed.
Come back early or
never come.
When I woke they did
not care;
Nobody, nobody was
there.
Come back early or
never come.
When my silent terror
cried,
Nobody, nobody
replied.
Come back early or
never come.
I got up; the chilly
sun
Saw me walk away
alone.
Come back early or
never come.
Torre
(Alex Andreyev:
artista russo)
Autobiografia
Em minha infância, as
árvores eram verdes
E muito havia para
ser visto.
Volta cedo ou nunca
venhas.
Meu pai fazia ressoar
as paredes,
Costumava usar o
colarinho ao contrário.
Volta cedo ou nunca
venhas.
Minha mãe usava um
vestido amarelo;
Suavemente, delicadamente,
a própria brandura.
Volta cedo ou nunca
venhas.
Aos cinco anos,
chegaram-me os negros sonhos;
Depois, nada se
manteve exatamente o mesmo.
Volta cedo ou nunca
venhas.
A escuridão falava
com os mortos;
Ao lado da minha cama,
a lâmpada estava escura.
Volta cedo ou nunca
venhas.
Quando acordei, não
houve quem se importasse;
Ninguém, ninguém lá
estava.
Volta cedo ou nunca
venhas.
Quando meu silencioso
terror tornou-se clamor,
Ninguém, ninguém respondeu.
Volta cedo ou nunca
venhas.
Levantei-me; o sol um
tanto frio
viu-me ir embora
sozinho.
Volta cedo ou nunca
venhas.
Referência:
MACNEICE, Louis. Autobiography. In: HEANEY, Seamus; HUGHES, Ted (Eds.). The rattle bag. 1st publ. London, EN: Faber and Faber, 1982. p. 53-54.
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