Com versos diretos, o
poeta declina um rol de possibilidades para o que se poderia entender por
poesia – suas adjetivações e atributos, jurisdições e pontos de encontro,
tantas as hipóteses por meio das quais resulta abordada –, muito embora ela, realmente,
pertença a tão poucos, a julgar pelo arremate de Carlitos no último verso.
Com tão limitado
número de leitores sobrevive a poesia, em parte porque quase desaparecida
da mídia e das livrarias, aqui como alhures; as editoras, por outro lado, não se dispõem a
publicá-la pela fragilidade da demanda.
Outro ponto, também
de notória ocorrência, é que raras são as obras poéticas contemporâneas que ascendem
às alturas, ainda que muito se produza, o que teria levado, porventura, a
poetisa Muriel Rukeyser (1913-1980) a afirmar em “In our time” (“Em nosso tempo”):
“Por agora, dizem que há liberdade de expressão. Que não há pena imputável aos
poetas, pois não há pena em se escrever poemas. Isto muito se diz, mas tal é a pena
em si.” (RUKEYSER, 2000, p. 123)
J.A.R. – H.C.
Carlito Azevedo
(n. 1961)
Poesia
Descanso para os
beletristas
labuta para os
concretistas
sã: dizem os árcades
vã: gravam nas
lápides
sonho dos
surrealistas
fúria dos dadaístas
(recitam ginasianos
a dos parnasianos)
azul para os
simbolistas
“azar dos
verdamarelistas”
está no Cântico dos
Cânticos
absinto dos
românticos
brasão dos ufanistas
Brasil dos modernistas
labirinto dos
barrocos
(eles tantos e ela de
tão poucos)
Vaidade dos Ancestrais
(Kurt L. Seligmann: pintor
suíço-americano)
Referências:
AZEVEDO, Carlito.
Poesia. In: __________. Collapsus linguae. 2. ed. revista. Rio de
Janeiro, RJ: Sette Letras, 1998. p. 33.
RUKEYSER, Muriel. Out
of silence: selected poems. Edited by Kate Daniels. 3rd print. Evanston,
IL: TriQuarterly Books; Northwestern University Press, 2000.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário