O ente lírico
propõe-se, aqui, a elaborar um parecer sobre o tema das “carícias”, uma espécie
de linguagem não verbal a expressar afeto ou, mais extensivamente, amor pela
pessoa a quem elas são dirigidas: seria de se esperar, em tese, que os casais
que mais se tocam, experimentassem maior satisfação no relacionamento (lá se
vai uma hipótese a ser testada!).
Não se omita,
obviamente, o fato de que ternura e carícias, de um lado, e de desejo amoroso,
de prazer sensual, de “luxúria”, do outro, são associações com significativo
grau de correlação: para ratificá-las, determinante se mostra o lugar (ou os
lugares) onde se dão os contatos (segue mais uma hipótese!).
Nessa “festa da pele”,
há os que dela se escondem: seriam os anacoretas. Há ainda os que são
resilientes à falta de carinho, embora não o dispendem. Há, por fim, aqueles “carentes
profissionais”, incapazes de seguir a vida sem blandícias – como o falante, ávido
de um “continuum” nos afagos, em companhia de ternas palavras.
J.A.R. – H.C.
Mario Benedetti
(1920-2009)
Informe sobre caricias
1.
La caricia es un
lenguaje
si tus caricias me
hablan
no quisiera que se
callen
2.
La caricia no es la
copia
de otra caricia
lejana
es una nueva versión
casi siempre mejorada
3.
Es la fiesta de la
piel
la caricia mientras
dura
y cuando se aleja
deja
sin amparo a la
lujuria
4.
Las caricias de los
sueños
que son prodigio y
encanto
adolecen de un
defecto
no tiene tacto
5
Como aventura y
enigma
la caricia empieza
antes
de convertirse en
caricia
6.
Es claro que lo mejor
no es la caricia en
sí misma
sino su continuación
En: “Yesterday y
mañana” (1987)
Beijos infinitos:
carícia
(Žiga Korent: artista
esloveno)
Informe sobre
carícias
1.
A carícia é uma
linguagem:
se tuas carícias me
falam,
não gostaria que se
calassem.
2.
A carícia não é a
cópia
de outra carícia
distante:
é uma nova versão,
quase sempre
melhorada.
3.
É a festa da pele:
a carícia, enquanto
dura
e quando se
distancia, deixa
sem amparo a luxúria.
4.
As carícias dos
sonhos,
que são prodígio e
encanto,
sofrem de um defeito:
não têm tato.
5.
Como aventura e
enigma,
a carícia começa
antes
de converter-se em
carícia.
6.
É claro que o melhor
não é a carícia em si
mesma,
mas sua continuação.
Em: “Yesterday e
amanhã” (1987)
Referência:
BENEDETTI, Mario.
Informe sobre caricias. In: __________. Antología poética. Introducción
de Pedro Orgambide. Selección del autor. 4. ed. 8. reimp. Madrid, ES: Alianza
Editorial, 2017. p. 285-286. (‘El libro de bolsillo’)
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