Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Mario Benedetti - Informe sobre carícias

O ente lírico propõe-se, aqui, a elaborar um parecer sobre o tema das “carícias”, uma espécie de linguagem não verbal a expressar afeto ou, mais extensivamente, amor pela pessoa a quem elas são dirigidas: seria de se esperar, em tese, que os casais que mais se tocam, experimentassem maior satisfação no relacionamento (lá se vai uma hipótese a ser testada!).

 

Não se omita, obviamente, o fato de que ternura e carícias, de um lado, e de desejo amoroso, de prazer sensual, de “luxúria”, do outro, são associações com significativo grau de correlação: para ratificá-las, determinante se mostra o lugar (ou os lugares) onde se dão os contatos (segue mais uma hipótese!).

 

Nessa “festa da pele”, há os que dela se escondem: seriam os anacoretas. Há ainda os que são resilientes à falta de carinho, embora não o dispendem. Há, por fim, aqueles “carentes profissionais”, incapazes de seguir a vida sem blandícias – como o falante, ávido de um “continuum” nos afagos, em companhia de ternas palavras.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mario Benedetti

(1920-2009)

 

Informe sobre caricias

 

1.

La caricia es un lenguaje

si tus caricias me hablan

no quisiera que se callen

 

2.

La caricia no es la copia

de otra caricia lejana

es una nueva versión

casi siempre mejorada

 

3.

Es la fiesta de la piel

la caricia mientras dura

y cuando se aleja deja

sin amparo a la lujuria

 

4.

Las caricias de los sueños

que son prodigio y encanto

adolecen de un defecto

no tiene tacto

 

5

Como aventura y enigma

la caricia empieza antes

de convertirse en caricia

 

6.

Es claro que lo mejor

no es la caricia en sí misma

sino su continuación

 

En: “Yesterday y mañana” (1987)

 

Beijos infinitos: carícia

(Žiga Korent: artista esloveno)

 

Informe sobre carícias

 

1.

A carícia é uma linguagem:

se tuas carícias me falam,

não gostaria que se calassem.

 

2.

A carícia não é a cópia

de outra carícia distante:

é uma nova versão,

quase sempre melhorada.

 

3.

É a festa da pele:

a carícia, enquanto dura

e quando se distancia, deixa

sem amparo a luxúria.

 

4.

As carícias dos sonhos,

que são prodígio e encanto,

sofrem de um defeito:

não têm tato.

 

5.

Como aventura e enigma,

a carícia começa antes

de converter-se em carícia.

 

6.

É claro que o melhor

não é a carícia em si mesma,

mas sua continuação.

 

Em: “Yesterday e amanhã” (1987)

 

Referência:

 

BENEDETTI, Mario. Informe sobre caricias. In: __________. Antología poética. Introducción de Pedro Orgambide. Selección del autor. 4. ed. 8. reimp. Madrid, ES: Alianza Editorial, 2017. p. 285-286. (‘El libro de bolsillo’)

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