Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Wallace Stevens - Manhã de Domingo VI

Nesta estância de um dos mais extensos – e extraordinários! – poemas de Wallace, o mote prende-se à ideia de que “A morte é a mãe da beleza” – não a ressuscitação ou a imortalidade –, a levar-nos até um “paraíso” comumente imaginado, em sua natureza, por caracterizações replicáveis ao “modus vivendi” terreno, às suas “cores”, a este “mundo mortal”.

 

O poeta deplora esse tipo de vida pós-morte, imanentemente mundanal (“Que triste, lá brilharem nossas cores / Tecer-se a seda de nossas manhãs / Soarem nossos violões insípidos!”), porque, em sua perspectiva, a morte seria um componente necessário para a mudança, eminentemente bela em razão de seu latente poder para depurar o caminho até uma nova vida.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wallace Stevens

(1879-1955)

 

Sunday Morning

 

VI

 

Is there no change of death in paradise?

Does ripe fruit never fall? Or do the boughs

Hang always heavy in that perfect sky,

Unchanging, yet so like our perishing earth,

With rivers like our own that seek for seas

They never find, the same receding shores

That never touch with inarticulate pang?

Why set the pear upon those river-banks

Or spice the shores with odors of the plum?

Alas, that they should wear our colors there,

The silken weavings of our afternoons,

And pick the strings of our insipid lutes!

Death is the mother of beauty, mystical,

Within whose burning bosom we devise

Our earthly mothers waiting, sleeplessly.

 

In: “Harmonium” (1923-1931)

 

O começo do inverno

(Aloyzas Pacevičius: pintor lituano)

 

Manhã de Domingo

 

VI

 

Não haverá morte no paraíso?

Não cairá a fruta madura? Os galhos

Hão de ficar para sempre carregados

Naquele céu perfeito e imutável,

E ao mesmo tempo semelhante ao mundo

Mortal, com rios que buscam sempre mares

Que nunca hão de tocar com lábios mudos?

De que servem as maçãs nessas margens?

Por que adoçar com ameixas aquelas praias?

Que triste, lá brilharem nossas cores,

Tecer-se a seda de nossas manhãs,

Soarem nossos violões insípidos!

A morte é a mãe de todo belo, mística,

E no seu seio cálido sonhamos

A mãe terrena, insone, a nossa espera.

 

Em: “Harmônio” (1923-1931)

 

Referência:

 

STEVENS, Wallace. Sunday morning VI / Manhã de domingo VI. Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. O imperador do sorvete e outros poemas. Seleção, tradução, apresentação e notas de Paulo Henriques Britto. 1. ed. rev. e ampl. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. Em inglês: p. 48; em português: p. 49.

Nenhum comentário:

Postar um comentário