Nesta estância de um dos
mais extensos – e extraordinários! – poemas de Wallace, o mote prende-se à
ideia de que “A morte é a mãe da beleza” – não a ressuscitação ou a imortalidade
–, a levar-nos até um “paraíso” comumente imaginado, em sua natureza, por caracterizações
replicáveis ao “modus vivendi” terreno, às suas “cores”, a este “mundo mortal”.
O poeta deplora esse
tipo de vida pós-morte, imanentemente mundanal (“Que triste, lá brilharem
nossas cores / Tecer-se a seda de nossas manhãs / Soarem nossos violões
insípidos!”), porque, em sua perspectiva, a morte seria um componente
necessário para a mudança, eminentemente bela em razão de seu latente poder
para depurar o caminho até uma nova vida.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
Sunday Morning
VI
Is there no change of
death in paradise?
Does ripe fruit never
fall? Or do the boughs
Hang always heavy in
that perfect sky,
Unchanging, yet so
like our perishing earth,
With rivers like our
own that seek for seas
They never find, the
same receding shores
That never touch with
inarticulate pang?
Why set the pear upon
those river-banks
Or spice the shores
with odors of the plum?
Alas, that they
should wear our colors there,
The silken weavings
of our afternoons,
And pick the strings
of our insipid lutes!
Death is the mother
of beauty, mystical,
Within whose burning
bosom we devise
Our earthly mothers
waiting, sleeplessly.
In: “Harmonium”
(1923-1931)
O começo do inverno
(Aloyzas Pacevičius: pintor
lituano)
Manhã de Domingo
VI
Não haverá morte no
paraíso?
Não cairá a fruta
madura? Os galhos
Hão de ficar para
sempre carregados
Naquele céu perfeito
e imutável,
E ao mesmo tempo
semelhante ao mundo
Mortal, com rios que
buscam sempre mares
Que nunca hão de
tocar com lábios mudos?
De que servem as maçãs
nessas margens?
Por que adoçar com
ameixas aquelas praias?
Que triste, lá
brilharem nossas cores,
Tecer-se a seda de
nossas manhãs,
Soarem nossos violões
insípidos!
A morte é a mãe de
todo belo, mística,
E no seu seio cálido
sonhamos
A mãe terrena,
insone, a nossa espera.
Em: “Harmônio”
(1923-1931)
Referência:
STEVENS, Wallace.
Sunday morning VI / Manhã de domingo VI. Tradução de Paulo Henriques Britto.
In: __________. O imperador do sorvete e outros poemas. Seleção,
tradução, apresentação e notas de Paulo Henriques Britto. 1. ed. rev. e ampl.
São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. Em inglês: p. 48; em português: p.
49.
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