Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 26 de fevereiro de 2023

Hannah Arendt - Verão Tardio

Num tom pesaroso e desencantado, os versos deste poema nos levam a supor que Arendt nos fala do rompimento do relacionamento de amor que mantinha com o filósofo Martin Heidegger (1889-1976), que àquela altura, em meados da segunda metade dos anos 20, já era casado com Elfrid Petri, com quem veio a ter dois filhos.

 

Separar-se da esposa para se juntar a uma estudante de origem judaica de dezoito anos, decerto, foi uma hipótese que Arendt, a muito peso, descartou em Heidegger: menos pior que ela foi capaz de, com esse infausto desate, reorientar a sua vida e extrair significados para a experiência do amor segundo as reflexões de Santo Agostinho, tema de sua tese de doutorado, concluída em 1929, sob a orientação de Karl Jaspers (1883-1969).

 

J.A.R. – H.C.

 

Hannah Arendt

(1906-1975)

 

Spätsommer

 

Der Abend hat mich zugedeckt

So weich wie Samt, so schwer wie Leid.

 

Ich weiss nicht mehr wie Liebe tut

Ich weiss nicht mehr der Felder Glut

Und alles will entschweben

Um nur mir Ruh zu geben.

 

Ich denk an ihn und hab ihn lieb

Doch wie aus fernen Landen

Und fremd ist mir das Komm und Gieb

Kaum weiss ich was mich bangt.

 

Der Abend hat mich zugedeckt

So weich wie samt so schwer wie Leid

Und nirgends sich Empörung reckt

Zu neuer Freud und Traurigkeit.

 

Und alle Weite die mich rief

Und alles Gestern klar und tief

Kann mich nicht mehr betören.

 

Ich weiss ein Wasser gross und fremd

Und eine Blume die keiner nennt

Was soll mich noch zerstören?

 

Der Abend hat mich zugedeckt

So weich wie Samt, so schwer wie Leid.

 

Verão Tardio

(Leo Putz: pintor tirolês)

 

Verão Tardio

 

A noite me cobriu

Tão suave como veludo, tão pesada como a dor.

 

Não sei mais como age o amor

Não sei mais dos campos o ardor

E tudo quer se desprender

A fim apenas de quietude oferecer.

 

Penso nele e tenho por ele carinho de coração

Mas como a partir de uma terra distante.

E estranha é para mim a vinda e a doação

Quase não sei o que se me mostra fascinante.

 

A noite me cobriu

Tão suave como veludo, tão pesada como a dor.

E em parte alguma a voz do levante se ouviu

Em nome de nova alegria e tristeza.

 

E todo mais além que me chamava

E todo ontem claro e profundo que se insinuava

Não pode mais me seduzir.

 

Conheço águas grandes e estranhas

E uma flor que ninguém nomeia

O que ainda pode me destruir?

 

A noite me cobriu

Tão suave como veludo, tão pesada como a dor.

 

Referências:

 

Em Alemão

 

ARENDT, Hannah. Spätsommer. In: YOUNG-BRUEHL, Elisabeth. Hannah Arendt: leben, werk und zeit. Frankfurt am Main, DE: S. Fischer Verlag GmbH, 1982. s. 99.

 

Em Português:

 

ARENDT, Hannah. Verão tardio. Tradução de Marco Antônio Casa Nova. In: ARENDT, Hannah; HEIDEGGER, Martin. Correspondência. Tradução de Marco Antônio Casa Nova. Rio de Janeiro, RJ: Relume Dumará, 2001. p. 301.

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