Num tom pesaroso e
desencantado, os versos deste poema nos levam a supor que Arendt nos fala do
rompimento do relacionamento de amor que mantinha com o filósofo Martin Heidegger
(1889-1976), que àquela altura, em meados da segunda metade dos anos 20, já era
casado com Elfrid Petri, com quem veio a ter dois filhos.
Separar-se da esposa
para se juntar a uma estudante de origem judaica de dezoito anos, decerto, foi
uma hipótese que Arendt, a muito peso, descartou em Heidegger: menos pior que ela
foi capaz de, com esse infausto desate, reorientar a sua vida e extrair significados
para a experiência do amor segundo as reflexões de Santo Agostinho, tema de sua
tese de doutorado, concluída em 1929, sob a orientação de Karl Jaspers (1883-1969).
J.A.R. – H.C.
Hannah Arendt
(1906-1975)
Spätsommer
Der Abend hat mich
zugedeckt
So weich wie Samt, so
schwer wie Leid.
Ich weiss nicht mehr
wie Liebe tut
Ich weiss nicht mehr
der Felder Glut
Und alles will entschweben
Um nur mir Ruh zu
geben.
Ich denk an ihn und
hab ihn lieb
Doch wie aus fernen
Landen
Und fremd ist mir das
Komm und Gieb
Kaum weiss ich was
mich bangt.
Der Abend hat mich
zugedeckt
So weich wie samt so
schwer wie Leid
Und nirgends sich
Empörung reckt
Zu neuer Freud und
Traurigkeit.
Und alle Weite die
mich rief
Und alles Gestern
klar und tief
Kann mich nicht mehr
betören.
Ich weiss ein Wasser
gross und fremd
Und eine Blume die
keiner nennt
Was soll mich noch
zerstören?
Der Abend hat mich zugedeckt
So weich wie Samt, so
schwer wie Leid.
Verão Tardio
(Leo Putz: pintor
tirolês)
Verão Tardio
A noite me cobriu
Tão suave como
veludo, tão pesada como a dor.
Não sei mais como age
o amor
Não sei mais dos
campos o ardor
E tudo quer se desprender
A fim apenas de
quietude oferecer.
Penso nele e tenho
por ele carinho de coração
Mas como a partir de
uma terra distante.
E estranha é para mim
a vinda e a doação
Quase não sei o que
se me mostra fascinante.
A noite me cobriu
Tão suave como
veludo, tão pesada como a dor.
E em parte alguma a
voz do levante se ouviu
Em nome de nova
alegria e tristeza.
E todo mais além que
me chamava
E todo ontem claro e
profundo que se insinuava
Não pode mais me
seduzir.
Conheço águas grandes
e estranhas
E uma flor que
ninguém nomeia
O que ainda pode me
destruir?
A noite me cobriu
Tão suave como
veludo, tão pesada como a dor.
Referências:
Em Alemão
ARENDT, Hannah. Spätsommer.
In: YOUNG-BRUEHL, Elisabeth. Hannah Arendt: leben, werk und zeit. Frankfurt
am Main, DE: S. Fischer Verlag GmbH, 1982. s. 99.
Em Português:
ARENDT, Hannah. Verão tardio. Tradução de Marco Antônio Casa Nova. In: ARENDT, Hannah; HEIDEGGER, Martin. Correspondência. Tradução de Marco Antônio Casa Nova. Rio de Janeiro, RJ: Relume Dumará, 2001. p. 301.
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