Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Dylan Thomas - Sagrada Primavera

Depois da queda, de um anticlímax urdido por prováveis ataques bélicos durante a 2GM, o falante volta-se – “ainda que somente seja pela última vez” – a um símbolo de regeneração, quiçá de impulso, de energia, de coragem, a saber, o desabrochar da primavera, estação consagrada a Hermes, o mensageiro dos deuses, em linha, por conseguinte, com as alusões bíblicas dos versos de Dylan, pejados de imagens contrapostas de trevas e de luz.

 

Diante da possibilidade de vir a sucumbir durante as investidas alemãs, a voz lírica se alegra em tornar a ver o despontar de um novo e bem-aventurado dia de primavera, a evocar bem mais a ideia de criação e de rebento, num “leito de amor”, do que de destruição e de óbito, num “leito de morte”, metáforas empregadas para, de fato, dar-nos conta de um estado de revivificação do poder criativo do poeta.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dylan Thomas

(1914-1953)

 

Holy Spring

 

O

Out of a bed of love

When that immortal hospital made one more move to soothe

The cureless counted body,

And ruin and his causes.

Over the barbed and shooting sea assumed na army

And swept into our wounds and houses,

I climb to greet the war in which I have no heart but only

That one dark lowe my light,

Call for confessor and wiser mirror but there is none

To glow after the god stoning night

And I am struck as lonely as a holy maker by the sun.

 

No

Praise that the spring time is all

Gabriel and radiant shrubbery as the morning grows joyful

Out of the woebegone pyre

And the multitude’s sultry tear turns coolon the weeping wall,

My arising prodigal

Sun the father his quiver full of the infants of pure fire,

But blessed be hail and upheaval

That uncalm still it is sure alone to stand and sing

Alone in the husk of man’s home

And the mother and toppling house of the holy spring,

If only for a last time.

 

In: “Deaths and Entrances” (1946)

 

Sagrada Primavera

(Paul Gauguin: pintor francês)

 

Sagrada Primavera

 

Oh

Fora de um leito de amor

Quando esse hospital fez ainda um movimento para aliviar

O incurável corpo com os dias contados,

E a ruína e suas causas

Sobre o mar transbordante e mordaz, arvorando-se num exército,

Varreram nossas chagas e casas,

Ergo-me para saudar a guerra de que não participo com coração algum

Senão o daquela treva a quem devo a luz,

Clamo por um confessor ou um espelho mais sábio, mas não há nenhum

Que fulgure atrás da noite que um deus lapida

E sou golpeado, tão solitário quanto um artífice sagrado, pelo sol.

 

Não

Louvai a primavera como se fosse tudo

Gabriel e os radiantes arbustos enquanto germina a manhã jubilosa

Fora da pira desolada

E as mornas lágrimas da multidão esfriam sobre o muro dos prantos,

Meu pai, o pródigo sol

Que se levanta, seu tremor cheio de meninos de fogo puro,

Mas benditos sejam o granizo e o cataclismo

Aquela calma inquieta está decerto sozinha para erguer-se e cantar

Sozinha na casca do lar humano,

Na mãe e na casa cambaleante da sagrada primavera.

Se pelo menos fosse a última vez...

 

Em: “Mortes e Entradas” (1946)

 

Referências:


Em Inglês

 

THOMAS, Dylan. Holy Spring. In: __________. Collected poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep. London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p.158.

 

Em Português

 

THOMAS, Dylan. Sagrada primavera. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José Olympio, 1991. p. 122-123.

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