Depois da queda, de
um anticlímax urdido por prováveis ataques bélicos durante a 2GM, o falante volta-se
– “ainda que somente seja pela última vez” – a um símbolo de regeneração, quiçá
de impulso, de energia, de coragem, a saber, o desabrochar da primavera,
estação consagrada a Hermes, o mensageiro dos deuses, em linha, por conseguinte,
com as alusões bíblicas dos versos de Dylan, pejados de imagens contrapostas de
trevas e de luz.
Diante da
possibilidade de vir a sucumbir durante as investidas alemãs, a voz lírica se
alegra em tornar a ver o despontar de um novo e bem-aventurado dia de primavera,
a evocar bem mais a ideia de criação e de rebento, num “leito de amor”, do que
de destruição e de óbito, num “leito de morte”, metáforas empregadas para, de
fato, dar-nos conta de um estado de revivificação do poder criativo do poeta.
J.A.R. – H.C.
Dylan Thomas
(1914-1953)
Holy Spring
O
Out of a bed of love
When that immortal
hospital made one more move to soothe
The cureless counted
body,
And ruin and his
causes.
Over the barbed and
shooting sea assumed na army
And swept into our
wounds and houses,
I climb to greet the
war in which I have no heart but only
That one dark lowe my
light,
Call for confessor
and wiser mirror but there is none
To glow after the god
stoning night
And I am struck as
lonely as a holy maker by the sun.
No
Praise that the
spring time is all
Gabriel and radiant
shrubbery as the morning grows joyful
Out of the woebegone
pyre
And the multitude’s
sultry tear turns coolon the weeping wall,
My arising prodigal
Sun the father his
quiver full of the infants of pure fire,
But blessed be hail
and upheaval
That uncalm still it
is sure alone to stand and sing
Alone in the husk of
man’s home
And the mother and
toppling house of the holy spring,
If only for a last
time.
In: “Deaths and
Entrances” (1946)
Sagrada Primavera
(Paul Gauguin: pintor
francês)
Sagrada Primavera
Oh
Fora de um leito de
amor
Quando esse hospital
fez ainda um movimento para aliviar
O incurável corpo com
os dias contados,
E a ruína e suas
causas
Sobre o mar
transbordante e mordaz, arvorando-se num exército,
Varreram nossas
chagas e casas,
Ergo-me para saudar a
guerra de que não participo com coração algum
Senão o daquela treva
a quem devo a luz,
Clamo por um
confessor ou um espelho mais sábio, mas não há nenhum
Que fulgure atrás da
noite que um deus lapida
E sou golpeado, tão
solitário quanto um artífice sagrado, pelo sol.
Não
Louvai a primavera
como se fosse tudo
Gabriel e os
radiantes arbustos enquanto germina a manhã jubilosa
Fora da pira desolada
E as mornas lágrimas
da multidão esfriam sobre o muro dos prantos,
Meu pai, o pródigo
sol
Que se levanta, seu
tremor cheio de meninos de fogo puro,
Mas benditos sejam o
granizo e o cataclismo
Aquela calma inquieta
está decerto sozinha para erguer-se e cantar
Sozinha na casca do
lar humano,
Na mãe e na casa
cambaleante da sagrada primavera.
Se pelo menos fosse a
última vez...
Em: “Mortes e
Entradas” (1946)
Referências:
Em Inglês
THOMAS, Dylan. Holy
Spring. In: __________. Collected poems: 1934-1952. 1st ed.; 12th rep.
London, EN: J. M. Dent & Sons Ltd., may 1959. p.158.
Em Português
THOMAS, Dylan.
Sagrada primavera. Tradução de Ivan Junqueira. In: __________. Poemas
reunidos: 1934-1953. Editados pelos professores Walford Davies e Ralph
Maud. Tradução e introdução de Ivan Junqueira. Rio de Janeiro, RJ: José
Olympio, 1991. p. 122-123.
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