Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Jaime Sabines - Rumo a Tuxtla

Amalgamar-se às coisas da terra natal – “a água batismal de todos os dias” – seria, segundo o falante, a pretensão maior de quem se encontra marcado pela morte, no caso, uma mulher acometida por uma enfermidade que até hoje assombra a humanidade – o câncer: Rosa, provável irmã de Sabines, retorna a Tuxtla, onde nascera, para lá passar os seus últimos dias.

 

A uma doença degenerativa, que a faria sucumbir aos poucos num frio entorno, algo isolada de seus familiares mais próximos – como num recinto qualquer de hospital –, Rosa prefere dar tratos diferenciados, retornando ao ponto de onde partira, para morrer lenta e conscientemente, a tempo de transformar o momento numa busca de discernimento espiritual, de autenticidade do ser, de plena conciliação aos desígnios do Eterno.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jaime Sabines

(1926-1999)

 

En la Estación de los Ferrocarriles

 

En la estación de los ferrocarriles acabo de dejar a la Rosa. Rosa tiene cáncer y regresa a Tuxtla a morir. Lo sabe, y nos ha recomendado a su hija.

 

Igual que los toros, uno busca su querencia antes de la muerte. Uno lleva consigo el olor de la tierra, las semillas, las hojas de los árboles, de su tierra bajo la piel, la arena y el aire en el que ha crecido, el agua bautismal de todos los días. Uno quiere confundirse con todas esas cosas cuando se siente herido de muerte.

 

El cadáver de la Rosa anda buscando su lugar. Hoy toma el tren de las ocho veinticinco rumbo a Tuxtla. ¡Buen Viaje!

 

Mexicana

(Vasko Taskovski: artista macedônio)

 

Rumo a Tuxtla

 

Acabo de deixar Rosa na estação da estrada-de-ferro. Rosa tem câncer e regressa a Tuxtla morrendo. Ela sabe e nos recomendou a sua filha.

 

Igual aos touros, a pessoa busca seu pago na hora da morte. Leva consigo o cheiro da terra, as sementes, as folhas das árvores de sua terra sob a pele, a areia e o ar onde cresceu, a água batismal de todos os dias. A pessoa quer confundir-se com todas essas coisas quando se sente ferida de morte.

 

O cadáver de Rosa anda buscando o seu lugar. Hoje toma o trem das oito e vinte e cinco rumo a Tuxtla. Boa viagem!

 

Referências:

 

Em Espanhol

 

SABINES, Jaime. En la estación de los ferrocarriles. In: __________. Weekly diary and poems in prose & Adam and Eve. A bilingual edition: Spanish x English. Translated and with an introduction by Colin Carberry. Toronto, CA: Exile Editions, 2004. p. 48.

 

Em Português

 

SABINES, Jaime. Rumo a Tuxtla. Tradução de Ferreira Gullar. In: GULLAR, Ferreira (Organização e algumas traduções). O prazer do poema: uma antologia pessoal. Rio de Janeiro, RJ: Edições de Janeiro, 2014. p. 183.

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