Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

Angélica Freitas - Entro na livraria do bobo

O componente hilário dos poemas de Angélica Freitas inicia-se pelo próprio título que a poetisa atribuiu ao poemário de onde extraídas estas linhas – “Rilke shake” –, a assemelhar-se com “milkshake”, para desse modo, talvez, dar a entender que se trata de uma recolha condensada qual uma “batida de ideias”, com algum “sabor” a evocar conteúdo ou forma de versos escritos pelo autor tcheco (ou, ainda, que lhe faça algum contraponto).

 

No que tange ao poema propriamente dito, encerra um “diálogo” hipotético entre a falante, dentro de uma livraria, e os livros expostos nas prateleiras, já há tanto tempo ali parados e loucos para serem “afanados” por alguém que os carregue: mas como a oradora não ousa surrupiar nenhum deles, ao sair da loja ouve impropérios vindos das estantes – “maricas”!

 

J.A.R. – H.C.

 

Angélica de Freitas

(n. 1973)

 

Entro na livraria do bobo

 

Entro na livraria do bobo.

não tenho dinheiro

e tampouco tenho talento para o crime.

 

desfilam ante meus olhos

títulos maravilhosos

moribundos de tanto estar

nas prateleiras.

 

roube-nos, dizem eles.

não aguentamos mais ficar aqui

na livraria do bobo.

 

quem acreditaria

nesta versão dos fatos?

ajudem-me, maragatos

nesta hora afanérrima

de uma libertadora paupérrima

de livros.

 

retumba meu coração. retumba

mais que a bateria do salgueiro.

treme o corpo por inteiro

e as mãos já suam em bicas.

 

ganho a rua, as mãos vazias

e os livros gritam: maricas.

 

A Livraria

(William Oxer: artista inglês)

 

Referência:

 

FREITAS, Angélica. Entro na livraria do bobo. In: __________. Rilke shake. 1. ed. São Paulo, SP: Cosac Naify; Rio de Janeiro, RJ: 7Letras, 2006. p. 8. (Coleção ‘Ás de Colete’; n. 15)

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário