O ente lírico se
esconde, timoratamente, por trás de máscaras carnavalescas para afastar a
hipótese de que, mirando face a face os olhos de sua almejada companheira, tudo
se convole em ausências e em distâncias: é que a tristeza o invade nesse baile espasmódico
que é a vida, e as promessas de amor logo poderiam redundar em malogro.
De fantasias e de
disfarces vive o carnaval, mas o falante sequer é capaz de fingimento,
mostrando um semblante animado em suas incursões raparigueiras, seja por uma
máscara hilária, seja pela atenuação espirituosa das linhas de seu próprio
rosto: menos pior é desfrutar de abraços e sorrisos inautênticos, ainda que por
um dia, do que passar temporadas inteiras à míngua de afetos!
J.A.R. – H.C.
Marco Ramírez Murzi
(1926-1997)
Carnaval
Vengo a ocultar mi
tristeza
donde nadie la vea.
Colgada,
detrás de las alegres
máscaras.
Donde nada es cierto,
como los brazos que
me rodean
y la risa en que se
mueren los violines.
Esto habrá de ser,
como el amor,
la cobardía de
mirarse cara a cara.
El miedo de que, por
mirarnos,
se llenen de ausencia
nuestros ojos
y todo sea distante.
En: “Alta Noche”
(1951)
Casal portando
máscaras venezianas
(Georganne Bishop: pintora
norte-americana)
Carnaval
Venho ocultar minha
tristeza
onde ninguém a veja.
Suspensa,
por trás das alegres
máscaras.
Onde nada é certo,
como os braços que me
rodeiam
e o riso em que
morrem os violinos.
Isto haverá de ser,
como o amor,
a covardia de
olhar-se cara a cara.
O medo de que, por
olhar-nos,
nossos olhos se
encham de ausências
e tudo seja distante.
Em: “Alta Noite”
(1951)
Referência:
MURZI, Marco Ramírez.
Carnaval. In: __________. Antología poética: 1945-1960). [San Cristóbal,
VE]: Imprenta del Ministerio de Educación; Departamento de Publciaciones, 1960.
p. 54. (‘Biblioteca de Autores y Temas Tachirenses’; v. 11) (Edición Conmemorativa
del IV Centenario de la Fundación de la Ciudad de San Cristóbal, Capital del
Estado Táchira, Venezuela)
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