O receio de morrer
não pode obliterar a disposição para viver, pois, do contrário, deixaremos de
fazer diferença no mundo – realizar ações significativas que possam ser de
valia para os que aqui permanecem –, ou mesmo de saber valorizar as pequenas e
belas coisas da existência, antes de partirmos em definitivo para uma outra
morada.
Pensar na morte não
pode ser uma obsessão, mas tem lá sua importância para darmos proveito ao tempo
que ainda nos resta, aos nossos relacionamentos, ao refinamento de nossa
própria identidade, de nosso “eu” profundo: um tempo de transformação
espiritual, de abertura à beleza do sagrado em todos nós, para trilharmos um
caminho até a unicidade portadora da mensagem do que seja verdadeiro e real (ainda
que pelo vislumbre de olhos tão limitados, em razão de nossa medida “humana”).
J.A.R. – H.C.
Rainer Maria Rilke
(1875-1926)
Ich kann nicht
glauben, daß der kleine Tod
Ich kann nicht
glauben, dass der kleine Tod,
dem wir doch täglich
übern Scheitel schauen,
uns eine Sorge bleibt
und eine Not.
Ich kann nicht
glauben, dass er ernsthaft droht;
ich lebe noch, ich
habe Zeit zu bauen:
mein Blut ist länger
als die Rosen rot.
Mein Sinn ist tiefer
als das witzige Spiel
mit unsrer Furcht, darin
er sich gefällt.
Ich bin die Welt,
aus der er irrend
fiel.
Wie er
kreisende Mönche
wandern so umher;
man fürchtet sich vor
ihrer Wiederkehr,
man weiß nicht: ist
es jedesmal derselbe,
sind’s zwei, sind’s
zehn, sind’s tausend oder mehr?
Man kennt nur diese
fremde gelbe Hand,
die sich ausstreckt
so nackt und nah –
da da:
als käm sie aus dem
eigenen Gewand.
In: Erstes Buch - Das
Buch vom Mönchischen Leben (1899)
Natureza-morta com
equipamento
de tiro e flores II
(Jean-Baptiste Oudry:
pintor francês)
Não posso acreditar
que a pequena morte
Não posso acreditar
que a pequena morte,
a quem vemos
diariamente por cima dos ombros,
ainda seja para nós
motivo de inquietude e sofrimento.
Não posso acreditar
que nos assedia seriamente;
Ainda estou vivo, tenho
tempo para projetos:
meu sangue será
vermelho por mais tempo que as rosas.
Mais profundo é meu
propósito do que o engenhoso jogo
com nossos medos em
que ela se compraz.
Eu sou o mundo,
fora do qual ela, errante,
tombou.
Como ela,
os monges, em
círculos, vagueiam no entorno;
teme-se o seu regresso,
já não se sabe: é
sempre o mesmo a cada vez,
são dois, são dez,
são mil ou mais?
Tudo o que se conhece
é essa estranha mão amarelada,
que tão perto e nua se
estende –
ali, ali:
como se emergisse de
nossas próprias vestes.
Em: Primeiro Livro -
O Livro da Vida Monástica (1899)
Referência:
RILKE, Rainer Maria. Ich
kann nicht glauben, daß der kleine tod. In: __________. Das stunden-buch.
Frankfurt am Main, DE: Insel Verlag, 1955. s. 28-29.
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