Para todo ser vivo, o
sofrimento e a morte são tão certos quanto a própria existência. Então, por que
“matar a morte por medo da vida”, se esta última é, por si só, uma sucessão de
pequenas mortes diárias, quando não, a resultante de uma inclemência ainda
maior dos que lhe têm grande desprezo, digo assim, desapiedado corolário de
guerras infames.
Mesmo sendo a morte consequência
tormentosa de um jogo de dados, sua infalibilidade torna a vida uma luta sem
tréguas para afastá-la de seu termo, com as armas da medicalização empregadas a
todo custo: ela é a “grande esperada” por ser evento certo, contudo não tão
“benquista” quando a “hora mortis” se aproxima.
J.A.R. – H.C.
Vinicius de Moraes
(1913-1980)
A Morte
A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus
olhos
Virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada!
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos
homens
Que matam a morte
Por medo da vida.
O Jardim da Morte
(Hugo Simberg: pintor
finlandês)
Referência:
MORAES, Vinicius. A morte. In: __________. Antologia poética. 1.ed. 14. reimp. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2000. p. 95.
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