Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Vinicius de Moraes - A Morte

Para todo ser vivo, o sofrimento e a morte são tão certos quanto a própria existência. Então, por que “matar a morte por medo da vida”, se esta última é, por si só, uma sucessão de pequenas mortes diárias, quando não, a resultante de uma inclemência ainda maior dos que lhe têm grande desprezo, digo assim, desapiedado corolário de guerras infames.

 

Mesmo sendo a morte consequência tormentosa de um jogo de dados, sua infalibilidade torna a vida uma luta sem tréguas para afastá-la de seu termo, com as armas da medicalização empregadas a todo custo: ela é a “grande esperada” por ser evento certo, contudo não tão “benquista” quando a “hora mortis” se aproxima.

 

J.A.R. – H.C.

 

Vinicius de Moraes

(1913-1980)

 

A Morte

 

A morte vem de longe

Do fundo dos céus

Vem para os meus olhos

Virá para os teus

Desce das estrelas

Das brancas estrelas

As loucas estrelas

Trânsfugas de Deus

Chega impressentida

Nunca inesperada

Ela que é na vida

A grande esperada!

A desesperada

Do amor fratricida

Dos homens, ai! dos homens

Que matam a morte

Por medo da vida.

 

O Jardim da Morte

(Hugo Simberg: pintor finlandês)

 

Referência:

 

MORAES, Vinicius. A morte. In: __________. Antologia poética. 1.ed. 14. reimp. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2000. p. 95.

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