A uma incisiva censura de uma provável voz feminina, no sentido de que retribuirá na mesma proporção a quantidade de fumaça que lhe atingir os olhos, provocada pelo interlocutor, este logo põe-se a encetar um discurso de contemporização para a situação, como se fosse um “contrato social” a permitir um convívio pacífico entre os negociantes.
Como ambos agem do mesmo modo, provocando externalidades negativas a todos que estão expostos à fumaça, há sentido na celebração de uma avença que ponha tudo explícito em termos de direitos e obrigações, um “Contrato Social” à maneira como postulado pelo filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
No fundo, o título do poema apenas espirituosa e parcialmente associa-se ao seu teor, este muito mais relativo à intimidade de um casal, digo melhor, conexo ao lado privado da existência – e não à notória dimensão pública colimada pela obra contratualista de Rousseau.
J.A.R. – H.C.
Veronica Forrest-Thomson
(1947-1975)
Social Contract
I’ll blow smoke in your eyes
if you’ll blow smoke in mine.
Light up; relax;
cigarette packs
enclose guarantees
of social ease.
Strike the right note
with a match
and fill the gaps
in communication
by inhalation
of instant pseudo-sympathy.
A brand-name’s a shorthand
for identity.
Squirt out, like a squid,
your smokescreen of pride
to hide
hopes and needs we can’t express
and turn out the inside.
We’ll fill the ashtrays
of the day’s
conviviality, and part,
stubbing out our fag ends
in each other’s heart.
In: “Uncollected Early Poems”
Casal fumando e bebendo
em uma pousada
(Duchatel François: pintor flamengo)
Contrato Social
Soprarei fumaça em teus olhos
se soprares fumaça nos meus.
Acende; relaxa;
os maços de cigarro
comportam garantias
de tranquilidade social.
Toca a nota certa
com um fósforo
e preenche os hiatos
na comunicação
pela inalação
de instantânea pseudosimpatia.
Um nome de marca é uma forma abreviada
para a identidade.
Esguicha a jorros, como uma lula,
tua cortina de fumaça de orgulho
para simular
esperanças e necessidades que não podemos
expressar e expulsar de dentro.
Encheremos os cinzeiros
do convívio
diário, e partiremos,
apagando nossas pontas de cigarro
no coração um do outro.
Em: “Primeiros Poemas Não Coligidos”
Referência:
FORREST-THOMSON, Veronica. Social
contract. In: __________. Collected poems. Edited, with notes and
variants, by Anthony Barnett. Exeter, EN: Shearsman Books & Allardyce Book,
2008. p. 42.
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