Um poeta presta tributo a outro poeta, seu compatriota e contemporâneo, recordando as esbórnias de que juntos participaram, como forma de mitigar as cizânias havidas com sérias discussões em prováveis tertúlias literárias, com consumo desenfreado de cigarros, bebidas e comprimidos (antidepressivos?) e alguma circunstancial criação poética.
Pela força da idade, sob o “novo ar de dezembro” – fim de um ciclo, começo de outro –, a voz lírica já não se mostra capaz, sequer, de dormir nem de escrever o próprio nome: pondera que, de qualquer forma, ambos se tornaram conhecidos do grande público, mesmo a despeito de – ou sobretudo, em razão de – todo o comportamento erradio demonstrado, o qual mais lhe apraz se mais erradio fosse.
J.A.R. – H.C.
Ted Berrigan
(1934-1983)
Robert (Lowell)
Like the philosopher Thales
who thought all things water
and fell into a well... trying to
find a car key... (“it can’t be here...”)
We rest from all discussion,
drinking, smoking, pills...
want nothing
but to be old, do nothing, type & think...
But in new December’s air
I could not sleep, I could not write my name –
Luck, we’ve had it; our character’s gone public –
We could have done worse. I hope we did.
Robert Lowell
(1917-1977)
(Autoria desconhecida)
Robert (Lowell)
Como o filósofo Tales
que pensava que tudo era água
e caiu em um poço... tentando
encontrar a chave de um carro... (“não pode estar
aqui...”)
Descansamos de toda discussão
pondo-nos a beber, a fumar, comprimidos...
nada querer
senão ser velho, nada fazer, digitar &
pensar...
Porém no novo ar de dezembro
não conseguia dormir, não conseguia escrever meu
nome –
Sorte, nós a tivemos; nossa figura tornou-se
pública –
Poderíamos ter feito pior. Espero que o tenhamos
feito.
Referência:
BERRIGAN, Ted. Robert (Lowell). In:
__________. The selected poems of Ted Berrigan. Edited by Alice Notley,
Anselm Berrigan and Edmund Berrigan. Berkeley, CA: University of California
Press, 2011. p. 195.
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