Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 21 de junho de 2021

Jared Smith - Não o Tempo

Um relógio de pulso existiria, segundo o poeta, não para que possamos manter o controle do tempo no quotidiano, mas para que o lítio por ele dissipado nos desperte para os limites que impomos às nossas relações afetivas: o que importa são outros tantos motivos que não tempo e dinheiro, quanto estamos envolvidos numa relação.

O tempo, assim, não passa de um símbolo que atravessa o espírito, sobressaltando-o como um predador. Contudo, o que se pensa pesarosamente sob o domínio do tempo logo se dissipará se mantivermos lúcida a consciência, quando então se poderá contemplar apenas o “clarão da lua”.

J.A.R. – H.C.

 

Jared Smith

(n. 1950)

 

Not Time

 

A not understanding of time is a not understanding of symbols.

The wrist disc I wear leaks lithium, not time;

and it ticks, meant for men of my generation; it ticks without meaning

loud enough that I can hear it, not time, even above the engine as I drive.

We speak the social symbols: you have enough of me for this,

I care enough of you for that, not time or money for the other.

There is someone else for that.

I think of a shadow in a murky lake

rising into my awareness as if I were there.

I see it take the shape of a predator and then melt back.

By the time I arrive there will be nothing but moonlight.

 

In: “Where Images Become Imbued with Time” (2007)

 

Mar do Norte ao luar

(Caspar David Friedrich: pintor alemão)

 

Não o Tempo

 

Uma não compreensão do tempo é uma não compreensão dos símbolos.

O relógio de pulso que uso dissipa lítio, não o tempo;

e faz tique-taque, apropriado aos homens de minha geração; tiquetaqueia

sem sentido

suficientemente alto para que possa ouvi-lo, não o tempo, ainda mais forte

que o motor enquanto dirijo.

Importo-me o suficiente contigo por isso, não com tempo ou dinheiro

para o outro.

Há mais alguém para tanto.

Penso numa sombra num lago turvo

subindo-me à consciência como se eu lá estivesse.

Vejo-a tomar a forma de um predador e logo se desfazer.

Quando eu lá chegar, não haverá nada mais que a luz da lua.

 

Em: “Onde as Imagens Ficam Permeadas pelo Tempo” (2007)


Referência:

SMITH, Jared. Not time. In: __________. The collected poems of Jared Smith: 1971-2011). 1st. ed. New York, NY: NYQ Books, 2012. p. 421.

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