Um relógio de pulso existiria, segundo o poeta, não para que possamos manter o controle do tempo no quotidiano, mas para que o lítio por ele dissipado nos desperte para os limites que impomos às nossas relações afetivas: o que importa são outros tantos motivos que não tempo e dinheiro, quanto estamos envolvidos numa relação.
O tempo, assim, não passa de um símbolo que atravessa o espírito, sobressaltando-o como um predador. Contudo, o que se pensa pesarosamente sob o domínio do tempo logo se dissipará se mantivermos lúcida a consciência, quando então se poderá contemplar apenas o “clarão da lua”.
J.A.R. – H.C.
Jared Smith
(n. 1950)
Not Time
A not understanding of time is a not understanding
of symbols.
The wrist disc I wear leaks lithium, not time;
and it ticks, meant for men of my generation; it
ticks without meaning
loud enough that I can hear it, not time, even
above the engine as I drive.
We speak the social symbols: you have enough of me
for this,
I care enough of you for that, not time or money
for the other.
There is someone else for that.
I think of a shadow in a murky lake
rising into my awareness as if I were there.
I see it take the shape of a predator and then melt
back.
By the time I arrive there will be nothing but
moonlight.
In: “Where Images Become Imbued with
Time” (2007)
Mar do Norte ao luar
(Caspar David Friedrich: pintor alemão)
Não o Tempo
Uma não compreensão do tempo é uma não compreensão
dos símbolos.
O relógio de pulso que uso dissipa lítio, não o
tempo;
e faz tique-taque, apropriado aos homens de minha
geração; tiquetaqueia
sem sentido
suficientemente alto para que possa ouvi-lo, não o
tempo, ainda mais forte
que o motor enquanto dirijo.
Importo-me o suficiente contigo por isso, não com tempo
ou dinheiro
para o outro.
Há mais alguém para tanto.
Penso numa sombra num lago turvo
subindo-me à consciência como se eu lá estivesse.
Vejo-a tomar a forma de um predador e logo se
desfazer.
Quando eu lá chegar, não haverá nada mais que a luz
da lua.
Em: “Onde as Imagens Ficam Permeadas
pelo Tempo” (2007)
Referência:
SMITH, Jared. Not time. In: __________.
The collected poems of Jared Smith: 1971-2011). 1st. ed. New York, NY: NYQ
Books, 2012. p. 421.
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