Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Age de Carvalho - A terra não é redonda

Não: o poeta paraense não está advogando a mesma coisa que as recentes hostes bolsonaristas passaram a defender com a subida de seu “mito” ao poder, vale dizer, que a terra seria plana! (rs) – pois este poema remonta à década de 80 do século passado, e o sentido colimado pelo autor revela-se nitidamente tropológico, como que a espreitar a dicotomia “local” x “universal”.

No “Quarto Mundo”, de Gismonti, sente-se o impacto ambiental da Hileia e o batuque primordial dos indígenas em seu ‘habitat’ – tão infinito, que paralelas poderiam vir a se tocar, e tão delimitado, que a objetiva de Galileu convergiria o foco não para a amplitude dos céus, senão para massa arbórea da Amazônia e os seus caudais tonitruantes.

J.A.R. – H.C.

 

Age de Carvalho

(n. 1958)

 

A terra não é redonda

 

I

 

O mundo revelado amplo,

junção de paralelas, plano

infinito do homem: o índio integral,

a utopia da terra, “Quarto Mundo”,

de Gismonti

 

II

 

O mundo tornado curto,

quadrado percorrido, turva

infância de Galileu: as arestas do vento,

o discurso dos rios, a Amazônia,

cabeleira do mundo

 

Superfície da Terra

(Meredith Poston: pintora norte-americana)


Referência:

CARVALHO, Age de. A terra não é redonda. In: __________. ROR: 1980-1990. São Paulo, SP: Duas Cidades; Secretaria de Estado de Cultura, 1990. p. 174. (Coleção ‘Claro Enigma’)

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