Não: o poeta paraense não está advogando a mesma coisa que as recentes hostes bolsonaristas passaram a defender com a subida de seu “mito” ao poder, vale dizer, que a terra seria plana! (rs) – pois este poema remonta à década de 80 do século passado, e o sentido colimado pelo autor revela-se nitidamente tropológico, como que a espreitar a dicotomia “local” x “universal”.
No “Quarto Mundo”, de Gismonti, sente-se o impacto ambiental da Hileia e o batuque primordial dos indígenas em seu ‘habitat’ – tão infinito, que paralelas poderiam vir a se tocar, e tão delimitado, que a objetiva de Galileu convergiria o foco não para a amplitude dos céus, senão para massa arbórea da Amazônia e os seus caudais tonitruantes.
J.A.R. – H.C.
Age de Carvalho
(n. 1958)
A terra não é redonda
I
O mundo revelado amplo,
junção de paralelas, plano
infinito do homem: o índio integral,
a utopia da terra, “Quarto Mundo”,
de Gismonti
II
O mundo tornado curto,
quadrado percorrido, turva
infância de Galileu: as arestas do vento,
o discurso dos rios, a Amazônia,
cabeleira do mundo
Superfície da Terra
(Meredith Poston: pintora norte-americana)
Referência:
CARVALHO, Age de. A terra não é
redonda. In: __________. ROR: 1980-1990. São Paulo, SP: Duas Cidades;
Secretaria de Estado de Cultura, 1990. p. 174. (Coleção ‘Claro Enigma’)
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