De vívidas imagens, matizadas por cores ainda mais garridas, estes versos – alongados, no sentido, para além de cada linha – tratam de uma cena que, no geral, mostrar-se-ia sem destaque, mas que, pela imaginação do poeta, converte-se em algo agradável: os operários, logo pela manhã, são vistos como um bando em folia, mesmo que submetidos a um árduo trabalho.
A alusão a um jogo em pleno trabalho fez-me recordar certas preleções, no âmbito da administração de recursos humanos, a ilustrarem a possibilidade de o mais desinteressante labor ser desenvolvido como se fosse um passatempo: as imagens veiculadas, há muitos anos, de rapazes atirando os peixes, escolhidos pelos clientes, a um outro do lado oposto do recinto, numa feira de pescado norte-americana, além de atrair muito mais fregueses e aumentar a demanda do vendedor em relação aos demais, tornava mais amena a tarefa daqueles peixeiros, os quais, certamente, não auferiam renda o bastante para demonstrar tanta euforia com aquele limitante trabalho.
J.A.R. – H.C.
D. H. Lawrence
(1885-1930)
Morning Work
A gang of labourers on the piled wet timber
That shines blood-red beside the railway siding
Seem to be making out of the blue of the morning
Something faery and fine, the shuttles sliding,
The red-gold spools of their hands and their faces
swinging
Hither and thither across the high crystalline
frame
Of day: trolls at the cave of ringing cerulean
mining
And laughing with labour, living their work like a
game.
In: “Early Poems” (1928)
Manhã: casal de camponeses
indo para o trabalho
(à maneira de Millet)
(Vincent van Gogh: pintor holandês)
Labor Matinal
Um bando de operários lidando na pilha
de madeira molhada, que brilha qual sangue
no desvio, ao longo dos trilhos da estrada,
transformam o azul da manhã em algo feérico.
Os troles vão e vêm; como bobinas rubro-
douradas, mãos e rostos vêm e vão também
contra a alta moldura cristalina do dia.
Vozes ressoam em cantoria na cerúlea
cava da mina; e todos riem em sua labuta –
vivendo o seu trabalho como uma folia.
Em: “Primeiros Poemas” (1928)
Referência:
LAWRENCE, D. H. Morning work / Labor
matinal. Tradução de Aíla de Oliveira Gomes. In: __________. Alguma poesia.
Seleção, tradução e introdução de Aíla de Oliveira Gomes. Edição bilíngue. São
Paulo, SP: T. A. Queiroz, 1991. Em inglês: p. 36; em português: p. 37.
(‘Biblioteca de Letras e Ciências Humanas’; série 2ª, textos; v. 6)
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