Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 20 de junho de 2021

D. H. Lawrence - Labor Matinal

De vívidas imagens, matizadas por cores ainda mais garridas, estes versos – alongados, no sentido, para além de cada linha – tratam de uma cena que, no geral, mostrar-se-ia sem destaque, mas que, pela imaginação do poeta, converte-se em algo agradável: os operários, logo pela manhã, são vistos como um bando em folia, mesmo que submetidos a um árduo trabalho.

A alusão a um jogo em pleno trabalho fez-me recordar certas preleções, no âmbito da administração de recursos humanos, a ilustrarem a possibilidade de o mais desinteressante labor ser desenvolvido como se fosse um passatempo: as imagens veiculadas, há muitos anos, de rapazes atirando os peixes, escolhidos pelos clientes, a um outro do lado oposto do recinto, numa feira de pescado norte-americana, além de atrair muito mais fregueses e aumentar a demanda do vendedor em relação aos demais, tornava mais amena a tarefa daqueles peixeiros, os quais, certamente, não auferiam renda o bastante para demonstrar tanta euforia com aquele limitante trabalho.

J.A.R. – H.C.

 

D. H. Lawrence

(1885-1930)

 

Morning Work

 

A gang of labourers on the piled wet timber

That shines blood-red beside the railway siding

Seem to be making out of the blue of the morning

Something faery and fine, the shuttles sliding,

 

The red-gold spools of their hands and their faces swinging

Hither and thither across the high crystalline frame

Of day: trolls at the cave of ringing cerulean mining

And laughing with labour, living their work like a game.

 

In: “Early Poems” (1928)

 

Manhã: casal de camponeses

indo para o trabalho

(à maneira de Millet)

(Vincent van Gogh: pintor holandês)

 

Labor Matinal

 

Um bando de operários lidando na pilha

de madeira molhada, que brilha qual sangue

no desvio, ao longo dos trilhos da estrada,

transformam o azul da manhã em algo feérico.

Os troles vão e vêm; como bobinas rubro-

douradas, mãos e rostos vêm e vão também

contra a alta moldura cristalina do dia.

Vozes ressoam em cantoria na cerúlea

cava da mina; e todos riem em sua labuta –

vivendo o seu trabalho como uma folia.

 

Em: “Primeiros Poemas” (1928) 


Referência:

LAWRENCE, D. H. Morning work / Labor matinal. Tradução de Aíla de Oliveira Gomes. In: __________. Alguma poesia. Seleção, tradução e introdução de Aíla de Oliveira Gomes. Edição bilíngue. São Paulo, SP: T. A. Queiroz, 1991. Em inglês: p. 36; em português: p. 37. (‘Biblioteca de Letras e Ciências Humanas’; série 2ª, textos; v. 6)

 

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