Este poema de Hesse ecoa como se fosse parte de um dos famosos ensaios de Ralph W. Emerson: é que a escrita transcendentalista do norte-americano é tão permeada por ‘insights’ sobre a alma e o espírito humano, que se torna difícil não associar as palavras do Nobel suíço às preleções sobre o renovo das faculdades da alma a cada interesse que nos surpreende, na multitude dos objetos com que entra em contato neste mundo.
Com efeito, a alma anseia por serenidade e repouso frente à turbulência dos fatos da vida, mas logo que assim se encontra, já trama em partir para novas experiências, devotando atenção à necessidade de concretizar as suas ideias, quando então a vida já não se mostrará tão cansativa – e se presume que nunca mais o será –, claro está, até que se esgotem as possiblidades dos objetos que deram ensejo a tal impulso. E, destarte, o ciclo recomeça...
J.A.R. – H.C.
Hermann Hesse
(1877-1962)
Keine Rast
Seele, banger Vogel du,
Immer wieder musst du fragen:
Wann nach so viel wilden Tagen
Kommt der Friede, kommt die Ruh?
O ich weiß: kaum haben wir
Unterm Boden stille Tage,
Wird vor neuer Sehnsucht dir
Jeder liebe Tag zur Plage.
Und du wirst, geborgen kaum,
Dich um neue Leiden mühen
Und oll. Ungeduld den Raum
Als der jüngste Stern durchglühen.
November 1913
Jovem com uma pomba
(John Rising: pintor inglês)
Nenhum Sossego
Alma, pássaro assustado,
tu sempre perguntarás:
quando, após tantos maus dias,
vem a calma, vem a paz?
Mas sei: tão logo tenhamos
calmos dias sob a terra,
com saudade hás de fazer
de cada dia uma praga.
E, apenas salva, estarás
cansando-te em outras penas:
e impaciente arderás como
a mais jovem das estrelas.
Novembro de 1913
Referências:
Em Alemão
HESSE, Hermann. Keine rast. In: In: __________. Die gedichte: 1892-1962. 19. auflage. Frankfurt am Main, DE: Suhrkamp, 1977. s. 386.
Em Português
HESSE, Hermann. Nenhum sossego.
Tradução de Geir Campos. In: __________. Andares: antologia poética.
Tradução e prólogo de Geir Campos. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, jan.
1976. p. 89.
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