Em meio à grave situação em que imerso o país, num descontrole sanitário em razão da pandemia por covid-19 – para a qual muito contribuiu, de modo determinante, o comportamento omissivo e nefasto do Governo Federal, sobretudo do presidente eleito –, como não relembrar os amigos, colegas e conhecidos que sucumbiram sob os terríveis efeitos provocados pela doença?
É a presença da morte, tão por perto, que nos deixa com o espírito soturno, quase nos fazendo perder o ânimo de viver. E para reverter tal situação, nada melhor que um poema com um tom de esperança e de confiança no espírito humano redivivo, quaisquer que sejam as contingências de momento, assim como tão bem se insculpe nestas memoráveis linhas do sufista persa.
J.A.R. – H.C.
Jalal ud-Din Rumi
(1207-1273)
When I die
When I die,
when my coffin
is being taken out,
you must never think
I am missing this world.
Don’t shed any tears,
don’t lament or
feel sorry,
I’m not falling
into a monster’s abyss.
When you see
my corpse is being carried,
don’t cry for my leaving;
I’m not leaving,
I’m arriving at eternal love.
When you leave me
in the grave,
don’t say goodbye.
Remember a grave is
only a curtain
for the paradise behind.
You’ll only see me
descending into a grave.
Now watch me rise;
how can there be an end
when the sun sets or
the moon goes down?
It looks like the end
it seems like a sunset,
but in reality it is a dawn
when the grave locks you up
that is when your soul is freed.
Have you ever seen
a seed fallen to earth
not rise with a new life?
Why should you doubt the rise
of a seed named human?
Have you ever seen
a bucket lowered into a well
coming back empty?
Why lament for a soul
when it can come back
like Joseph from the well.
When for the last time
you close your mouth,
your words and soul
will belong to the world of
no place no time.
Alegoria da morte e o homem rico
(Frans Francken III: pintor flamengo)
Quando eu morrer
Quando eu morrer
e meu esquife
estiver sendo levado para fora,
jamais deverás pensar que
estarei sentindo falta deste mundo.
Não derrames quaisquer lágrimas,
não lamentes
ou compadeças-te de mim,
pois não estarei caindo
no abismo de um monstro.
Quando vires
meus despojos sendo carregados,
não chores por minha partida,
pois não estarei partindo,
senão chegando ao amor eterno.
Quando te ausentares
de meu jazigo,
não digas adeus.
Lembra-te de que um jazigo é
apenas um véu
com o paraíso por trás.
Apenas me verás
descendo à tumba.
E logo me verás a subir:
como pode haver um fim
quando o sol ou a lua
se põem?
Isso parece o fim,
semelha-se ao pôr do sol,
mas na realidade é um amanhecer;
o instante em que te fecham na tumba
é o momento em que tua alma se liberta.
Já viste alguma vez
uma semente caída na terra
não abrolhar em uma nova vida?
Por que hás de duvidar do germinar
de uma semente em forma humana?
Alguma vez chegaste a ver
um balde baixar em um poço
e retornar vazio?
Por que lamentar-se por uma alma
quando se pode regressar, como José,
desde o poço em que se foi atirado?
Quando pela derradeira vez
fechares a tua boca,
tuas palavras e tua alma pertencerão
ao mundo que não mais se sujeita
às leis do espaço e do tempo.
Referência:
RUMI, Jalal ud-Din. When I die.
Translated from Persian to English by Nader Khalili. In: __________. The
spiritual poems of Rumi. 2nd publ. Translated by Nader Khalili. New York,
NY: Wellfleet Press, 2020. p. 62-63.
Extremamente profundo, muito inspirador!
ResponderExcluirCertamente, prezado(a):
ExcluirOs poemas de Rumi, repletos de um pendor místico, são capazes de nos levar a um estado de enlevo espiritual.
João A. Rodrigues