Carlos labuta em seu mister literário ao romper do dia, mesmo instante em que a cidade começa a emergir de seu sono e partir para a lida diária, de trabalho e espairecimento, preenchendo-lhe as ruas com a força harmônica e inesgotável do que se orna o universo: estamos na primavera dos dias, instante mesmo em que uma “ave de fogo” arde vividamente perante nossos “densos olhos”.
Diz o poeta que a “alegria se reconstrói e continua” a cada momento, como um processo metamórfico, eis que se parece a uma messe de átimos estelares que se estabelecem por força dos relacionamentos: somos peregrinos que se buscam conhecer, pois se o desígnio de todos nós é o alcance da felicidade, deve haver um denominador comum que nos cinge a todos.
J.A.R. – H.C.
Carlos de Oliveira
(1921-1981)
Quando a harmonia chega
Escrevo na madrugada
as últimas palavras deste livro:
e tenho o coração tranquilo,
sei que a alegria se reconstrói e continua.
Acordam pouco a pouco os construtores terrenos,
gente que desperta no rumor das casas,
forças surgindo da terra inesgotável,
crianças que passam ao ar livre gargalhando.
Como um rio lento e irrevogável,
a humanidade está na rua.
E a harmonia,
que se desprende dos seus olhos densos ao
encontro da luz,
parece de repente urna ave de fogo.
Em: “Terra de Harmonia” (1950)
Margens do rio Oise ao nascer do sol
(Louis Hayet: pintor francês)
Referência:
OLIVEIRA, Carlos de. Quando a harmonia
chega. In: CASTRO, Mario Moraes (Selección y Traducción). Antología breve de
la poesía portuguesa del siglo XX. Edición bilingüe: Portugués x Español.
1. ed. México, DF: Instituto Politécnico Nacional, ene. 1998. p. 120.
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