Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Daniel Faria - Cigarra

Seguindo a linha da fábula atribuída a Esopo (620 a.C. - 564 a.C.), o poeta lusitano, associando-se à cigarra, vive a vida como uma sentença com que não pode haver-se senão por amor, dirigindo-lhe os cicios como se feitiço fosse, prodigalizando o seu canto às aves e aos viandantes.

Findo o verão, espera agora que as flores, furtivamente rareadas com a mudança de estação, levem-no consigo, quando o seu corpo caído silenciar o canto – o qual, convictamente, seria a sua missão de vida: feito um presságio, a figura prototípica da cigarra bem lhe cabe, pois pouco viveu, ao abreviarem-se os seus dias aos 28 anos.

J.A.R. – H.C.

 

Daniel Faria

(1971-1999)

 

Cigarra

 

Amei a vida

Como se fora um castigo

 

Cantei-a

Como se fora um feitiço

 

Agora chora

Esse canto calado

Sacie-te a voz

Agasalhe-te o pranto

 

Que fizeste no Verão?

Vendeste o teu canto?

 

Não vendi

Dei-o às aves

A qualquer viandante

 

Oh leva-me flores

Quando já o meu corpo

Caído não cante

 

Cigarra

(Désiré George Herman: artista belga)


Referência:

FARIA, Daniel. Cigarra. In: __________. Poesia. Edição de Vera Vouga. 1. ed. Porto, PT: Assírio & Alvim, mai. 2012. p. 377.

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