Como um vaga-lume, o poeta, sob a ótica do autor carioca, é um “narciso das estrelas”, um valdevinos-noctâmbulo, fazendo luzir em suas tramas encantatórias certa pátina urbana, beatnik, iconoclasta: vive ele num mundo de nostalgias, imaginando-se transposto por viadutos e túneis que conectam díspares tribos citadinas, sem que pertença a nenhuma delas.
Ao confrontar os vocábulos “vira-lata” e “violino”, Cavalcanti leva-me a crer que esteja a afirmar que o vate – esse “profeta de meias verdades” – abriga em si tanto a hipótese do poeta de rua, do cancioneiro popular, que transaciona o fruto de seu trabalho em bares, cantinas e cafés, quanto a do poeta que, por homologia, assume uma postura clássica, com mais “pedigree”, sendo publicado por editoras de maior alcance. Ou seria tal apreensão mera conjectura sem sentido?!
J.A.R. – H.C.
Augusto de Guimaraens Cavalcanti
(n. 1984)
Vaga-lume
Narciso das estrelas,
todo poeta é um vaga-lume,
anda por becos, lugares escuros
profeta de meias verdades,
vira-lata e violino ao mesmo tempo,
todo poeta tem um veneno de veludo (azul).
Vagabundo (iluminado)
beatnik, percorrendo tribos,
o poeta não é de tribo nenhuma,
o poeta é viaduto,
túnel, sombra, sonho,
narciso de estrelas,
noturno,
nostálgico,
urbano.
O poeta com bandolim
(Carolus-Duran: pintor francês)
Referência:
CAVALCANTI, Augusto de Guimaraens.
Vaga-lume. In: VALLE, Camila do; PAVÓN, Cecilia (Sels.). Caos portátil:
poesía contemporánea del Brasil. Edición bilingüe: Portugués x Español. Traducción de Cecilia Pavón. 1. ed.
México, DF: EBL – Ediciones El Billar de Lucrecia, oct. 2007. p. 172 e 174.
(‘Poesía Latinoamericana’)
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