Na tradução do poeta Manuel Bandeira, tem-se aqui o último poema
redigido pelo escritor austríaco, por ocasião dos seus 60 (sessenta) anos, em
28.11.1941, alguns meses antes, portanto, de seu suicídio e de sua esposa, em
Petrópolis (RJ), no dia 23.2.1942: fala-nos Zweig de uma renúncia que levaria a
se amar mais intensa e fidedignamente a vida, a permitir contemplar o mundo de
modo nada cobiçoso.
O poema como um todo, ao mesmo tempo, expressa um certo cansaço diante
da vida, percebendo-se os sinais físicos da velhice e um pressentimento da
noite que se aproxima – nomeadamente a morte –, uma despedida que, como se deduz
da primeira estrofe, advém sob o signo da razão. Mas teria sido, de fato, sob o
signo da razão que Zweig decidiu precipitá-la?
J.A.R. – H.C.
Stefan Zweig
(1881-1942)
Letztes Gedicht
Linder schwebt der
Stunden Reigen
Über schon ergrautem
Haar,
Denn erst an des
Bechers Neigen
Wird der Grund, der goldne,
klar.
Vorgefühl des nahen
Nachtens,
Es verstört nicht ...
es entschwert.
Reine Lust des
Weltbetrachtens
Kennt nur, wer nicht
mehr begehrt,
Nicht mehr fragt, was
er erreichte,
Nicht mehr klagt, was
er gemißt,
Und dem Altern nur
der leichte
Anfang seines
Abschieds ist.
Niemals glänzt der
Ausblick freier,
Als im Glast des
Scheidelichts,
Nie liebt man das
Leben treuer
Als im Schatten des
Verzichts.
Propondo um Brinde
(Gustav Zaak: pintor
alemão)
Último Poema
Suave as horas bailam
sobre
O cabelo branco e
raro.
A áurea taça a borra
cobre:
Sorvida, eis o fundo,
claro!
Pressentimento da morte
Não turba, é alivio
profundo.
O gozo mais puro e
forte
Da contemplação do
mundo
Só o tem quem nada
cobice,
Nem lamente o que não
teve,
Quem já o partir na
velhice
Sinta, – um partir
mais de leve.
O olhar despede mais
chama
No instante da
despedida.
E é na renúncia que
se ama
Mais intensamente a
vida.
Referências:
Em Alemão
ZWEIG, Stefan. Letztes gedicht. Disponível neste endereço. Acesso em: 5 mai. 2020.
Em Português
ZWEIG, Stefan. Último poema. Tradução
de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas
traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 33.
(Coleção ‘Rubáiyát’)
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