Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Stefan Zweig - Último Poema

Na tradução do poeta Manuel Bandeira, tem-se aqui o último poema redigido pelo escritor austríaco, por ocasião dos seus 60 (sessenta) anos, em 28.11.1941, alguns meses antes, portanto, de seu suicídio e de sua esposa, em Petrópolis (RJ), no dia 23.2.1942: fala-nos Zweig de uma renúncia que levaria a se amar mais intensa e fidedignamente a vida, a permitir contemplar o mundo de modo nada cobiçoso.

O poema como um todo, ao mesmo tempo, expressa um certo cansaço diante da vida, percebendo-se os sinais físicos da velhice e um pressentimento da noite que se aproxima – nomeadamente a morte –, uma despedida que, como se deduz da primeira estrofe, advém sob o signo da razão. Mas teria sido, de fato, sob o signo da razão que Zweig decidiu precipitá-la?

J.A.R. – H.C.

Stefan Zweig
(1881-1942)

Letztes Gedicht

Linder schwebt der Stunden Reigen
Über schon ergrautem Haar,
Denn erst an des Bechers Neigen
Wird der Grund, der goldne, klar.

Vorgefühl des nahen Nachtens,
Es verstört nicht ... es entschwert.
Reine Lust des Weltbetrachtens
Kennt nur, wer nicht mehr begehrt,

Nicht mehr fragt, was er erreichte,
Nicht mehr klagt, was er gemißt,
Und dem Altern nur der leichte
Anfang seines Abschieds ist.

Niemals glänzt der Ausblick freier,
Als im Glast des Scheidelichts,
Nie liebt man das Leben treuer
Als im Schatten des Verzichts.

Propondo um Brinde
(Gustav Zaak: pintor alemão)

Último Poema

Suave as horas bailam sobre
O cabelo branco e raro.
A áurea taça a borra cobre:
Sorvida, eis o fundo, claro!

Pressentimento da morte
Não turba, é alivio profundo.
O gozo mais puro e forte
Da contemplação do mundo

Só o tem quem nada cobice,
Nem lamente o que não teve,
Quem já o partir na velhice
Sinta, – um partir mais de leve.

O olhar despede mais chama
No instante da despedida.
E é na renúncia que se ama
Mais intensamente a vida.

Referências:

Em Alemão

ZWEIG, Stefan. Letztes gedicht. Disponível neste endereço. Acesso em: 5 mai. 2020.

Em Português

ZWEIG, Stefan. Último poema. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas traduzidos. 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1956. p. 33. (Coleção ‘Rubáiyát’)

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