Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 6 de junho de 2020

Mário de Andrade - Mozart

Andrade, uma das figuras proeminentes do Modernismo Brasileiro, quando se dispunha a tanto, também era capaz de belos sonetos, como o que ora postamos, para ilustrar. O tema? Ora ora, um daqueles que já tantas laudas, tantas películas, tantos comentos já se declinaram para tecer loas à sua genialidade – Wolfgang Amadeus Mozart, o célebre músico de Salzburgo, Áustria.

Em tempos de pandemia pelo coronavírus, chega a ser um insulto imaginarmos que uma figura exponencial como Mozart – que, pródigo com a vida, deixou-nos tantas belezas – tenha sido sepultado em uma vala comum em fins do século dezoito, conforme a prática da época para indivíduos da classe média. Menos pior que as criações do compositor hajam permanecido, estando os despojos do criador no anonimato.

J.A.R. – H.C.

Mário de Andrade
(1893-1945)

Mozart

Morrer como Mozart!… Deixando a face
da terra presa a um fúnebre lamento…
Aguaceiros, trovões nesse momento,
como se, à dor, o próprio Deus chorasse…

Sem ter quem visse, a lampejar fugace
do raio onde o coveiro hirto praguento,
nessa vala comum do esquecimento
meu inútil cadáver atirasse…

Se, como a dele, em prantos, no outro dia
uma mulher me fosse levar flores,
ninguém o meu lugar lhe indicaria…

Morrer como ele, inteiramente ao mundo!
– Mas, por ter perpetuado as minhas dores,
surgir na glória, como um Sol fecundo!…

Wolfgang Amadeus Mozart: 1756-1791
(Retrato anônimo, embora possivelmente de
autoria de Pietro Antonio Lorenzoni)

Referência:

ANDRADE, Mário de. Mozart. In: __________. Poesias completas. v. 2. Edição de texto apurado, anotada e acrescida de documentos por Tatiana Longo Figueiredo e Telê Ancona Lopez. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2013. p.  134.

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